Título: Dilma vai à televisão descartar racionamento
Autor: Fariello, Danilo
Fonte: O Globo, 23/01/2013, Economia, p. 20

A presidente Dilma Rousseff fará esta noite um novo pronunciamento em cadeia de rádio e TV para confirmar a queda média de 20% nas tarifas de energia elétrica, a partir de fevereiro, e descartar "enfaticamente", segundo um de seus assessores, a possibilidade de racionamento de energia. As recentes ameaças de aumento no preço das tarifas e rumores sobre a possibilidade de um novo racionamento levaram a presidente a querer esclarecer a situação. Em 7 de setembro passado, a presidente usou a rede nacional de rádio e TV para anunciar a queda nas tarifas.

O medo de a queda ser menor do que a prometida tem dois motivos. Primeiro pela falta de interesse de, pelo menos, duas grandes empresas do setor, Cesp e Cemig, em aderir à possibilidade de renovação de contratos com a condição de redução das receitas. Isso fez com que o Tesouro Nacional tivesse de elevar os aportes ao setor para honrar a promessa de queda média de 16,2% nas tarifas dos consumidores residenciais.

A outra ameaça à queda da energia não se refere especificamente às novas medidas regulatórias, mas à conjuntura do sistema hidrológico brasileiro. Com o baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas neste verão, o governo tem acionado mais usinas térmicas, que são mais caras, e esse custo acabará em algum momento sendo repassado às tarifas.

Com um aumento maior das tarifas de energia na revisão anual, o resultado líquido para os consumidores poderia ser uma redução das contas de luz bem menor do que os 16,2% previstos. O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner, reconheceu ontem o impacto maior, a longo prazo, nas tarifas pelo uso das térmicas nesta temporada.

- Este ano vai ter um impacto maior nessa previsão (de uso das térmicas), principalmente das empresas com reajuste mais no início do ano, porque tínhamos uma previsão no ano passado de que teríamos muito pouco despacho de térmicas - disse Hubner. - (Mas) a gente tem expectativa de que não vai ser esse drama todo que estão colocando.

chuva alivia preocupações

A maior distribuidora a ter revisão tarifária neste início de ano é a Ampla, com atuação no Rio. O reajuste deve ficar em 14%. Nos últimos dias, o ritmo de chuvas pelo país tem sido forte e os reservatórios estão retomando seus níveis mais seguros de energia. No domingo, último dia com dados disponíveis no Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o nível dos reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste (aquelas mais preocupantes) cresceu bastante, distanciando-se do nível crítico. Os reservatórios chegaram a 33,5% da capacidade, enquanto a curva de aversão a risco estava em 23,3%.

O diretor-superintendente da Enecel Energia, comercializadora de energia no mercado livre, Raimundo de Paula Batista, alertou que as chuvas não devem ser suficientes para encher os reservatórios das usinas. Segundo Batista, somente de outubro do ano passado até o início deste mês o custo da geração térmica já atingiu cerca de R$ 8 bilhões.