Título: Apesar da crise, Brasil atrai investimento acima de US$ 60 bi
Autor: Justus, Paulo; Villas Bôas, Bruno
Fonte: O Globo, 23/01/2013, Economia, p. 21

Mesmo com o baixo crescimento da economia no ano passado - a previsão é de avanço do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos) abaixo de 1% -, o país continuou recebendo uma enxurrada de investimentos de estrangeiros na atividade produtiva. O Banco Central (BC) deve divulgar hoje que o país atraiu até US$ 64 bilhões em 2012 em Investimento Estrangeiro Direto (IED), os recursos direcionados ao setor real da economia, segundo previsão do BC e de economistas. Se confirmado esse valor, o saldo terá encolhido 3,9% em relação a 2011, quando foi de US$ 66,66 bilhões, o melhor resultado da série do BC, iniciada em 1947.

Porém, para economistas, apesar do recuo, o dado revela que o desempenho do consumo e emprego em meio à crise internacional continua atraindo multinacionais. O Brasil deve figurar entre os maiores alvos do IED no ano, atrás apenas de economias como EUA, China, Bélgica e outras potências.

Segundo Carlos Thadeu de Freitas, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do BC, as empresas são atraídas pelo potencial de crescimento e pela taxa de retorno do mercado brasileiro.

- Estamos em uma situação favorável porque é um investimento a médio e a longo prazos, que fica de cinco anos a mais de 15 anos. São investimentos que não vêm em busca de ganho com juros, aplicações de curto prazo - afirma o ex-diretor do BC.

entrada superou previsões

O vigor de empresas multinacionais surpreendeu economistas e o próprio governo. No início do ano passado, o BC previa US$ 50 bilhões de IED este ano. Para dezembro de 2012, a média das projeções de economistas consultados pela agência Bloomberg indica um IED de US$ 4,3 bilhões, o que levaria a fechar o ano em US$ 64 bilhões. Mas há apostas em valores próximos mesmo de US$ 66 bilhões. E nada impede uma nova surpresa.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Lima, além da demanda interna aquecida, os investimentos continuaram fluindo ao país, devido em parte a uma inércia de 2011:

- Quando uma empresa anuncia o investimento em uma fábrica, esse dinheiro não entra de uma vez. Vai sendo colocado aos poucos.

O ligeiro desaquecimento do IED no Brasil reflete o que aconteceu no mundo em 2012. Em relatório, a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) previu que o IED global ficaria no ano passado, no melhor cenário, no mesmo patamar de 2011: US$ 1,6 trilhão no mundo. Na China, por exemplo, o IED recuou 3% em 2012 , para US$ 111,7 bilhões.

O forte patamar de IED no Brasil chegou a levar governo e especialistas a acreditarem, em 2011, que parte do dinheiro de estrangeiros destinado à renda fixa estaria ingressando no país escamoteada de IED, para escapar à alíquota maior do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Como o governo reduziu o IOF de investimentos em portfólio em 2012 e nada mudou, essa tese passou a ser descartada.

projeção para 2013 é de estabilidade

Para este ano, o ritmo deve seguir elevado. O Itaú Unibanco prevê um IED de US$ 64 bilhões. O BC fala em US$ 65 bilhões. Para Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, o número pode chegar mesmo a US$ 67 bilhões, o que seria um novo recorde. Ele frisa, no entanto, que existem fatores de risco que precisam ser considerados:

- Há riscos nas alterações na economia feitas pelo governo: as intervenções, que podem afastar investidores.

O número de fusões e aquisições entre empresas brasileiras e investidores externos alcançou a marca de 296 transações no ano passado, 42,3% a mais que as 208 de 2011, segundo a KPMG. Um recorde desde que a KPMG começou a acompanhar esses negócios, em 1999. Os setores mais ativos em aportes externos foram tecnologia de informação (TI), com 37 operações; serviços (37); negócios de internet (31); farmacêutico (12); e eletrônicos (10).

- Em 2013, acreditamos que o investimento deve se manter, mas talvez não com tanta intensidade, devido à lenta recuperação da economia - diz Luis Motta, sócio-lider da área de Fusões e Aquisições da KPMG no Brasil.

Estudo da PwC mostra que os investimentos estrangeiros representaram 41% das fusões e aquisições em 2012. Este ano, diz Alexandre Pierantoni, esse percentual deve chegar a 50%.