Título: Brasil inicia escolha de nova estação antártica
Autor: Baima, Cesar
Fonte: O Globo, 23/01/2013, Ciência, p. 28

Quase um ano depois do incêndio que destruiu a Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), em fevereiro de 2012, a Marinha, em parceria com o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e os ministérios da Ciência e Tecnologia e do Meio Ambiente, lançou ontem um concurso para escolher o projeto da nova base brasileira no continente gelado. Os detalhes da disputa só serão conhecidos na próxima segunda, quando entra no ar o site da competição na internet (www.concursoestacaoantartica.iab.org.br), mas de acordo com o almirante Julio Soares de Moura Neto, comandante da Marinha, ela deverá ter cerca de 3 mil metros quadrados de área construída (quando do incêndio, a EACF tinha 2,6 mil) e respeitar critérios estritos de segurança, sustentabilidade e adaptação ao ambiente antártico, sendo aberto a arquitetos brasileiros e estrangeiros associados a escritórios nacionais.

- Montamos um grupo enorme de cientistas, técnicos e acadêmicos para decidir os requisitos que esta futura estação deve ter e também ouvimos os pesquisadores para saber o que eles sentiam falta na estação antiga - disse o almirante. - Será uma estação mais moderna, construída especificamente para apoiar as pesquisas científicas, e com mais requisitos de segurança para evitar infortúnios como tivemos no ano passado. Ela também deverá usar materiais mais fáceis de se manusear e é possível que a construção não seja tão difícil como foi há 29 anos, quando começamos a construir a EACF.

Custo ficará em torno de R$ 100 milhões

Ainda segundo Moura Neto, o custo total da reconstrução da estação dependerá do projeto que ganhar o concurso, mas deve ficar por volta de R$ 100 milhões, tendo como referência uma base recém-construída pela Espanha no continente, que demandou investimentos da ordem de 40 milhões de euros. A previsão é de que as obras tenham início já no próximo verão antártico, que começa em novembro deste ano, com conclusão no máximo na temporada de verão seguinte, entre 2014 e 2015.

O almirante contou ainda que no último dia 12, justamente a data dos 31 anos de início do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), foi encerrado o processo de desmonte da estação incendiada. O trabalho de limpeza e desmonte, feito manualmente, durou dois meses.

destroços são trazidos para o Brasil

o fogo atingiu a EACF quase ao fim da temporada do ano passado e é impossível fazer o trabalho nas duras condições climáticas do inverno antártico, a Marinha teve que esperar até o início deste verão para realizar a limpeza dos escombros, uma das exigências do Tratado da Antártica. Todo o material queimado e o que restou de pé teve que ser trazido para o Brasil de navio, para cumprir as regras do tratado.

Ele acrescentou também que já no início de fevereiro deverão ser instalados os chamados módulos antárticos emergenciais (MAEs), que abrigarão uma pequena guarnição de militares com entre 10 e 15 homens durante este inverno no continente.

Além disso, para evitar a interrupção das pesquisas, a Marinha montou neste verão sua maior operação logística em mais de 30 anos de presença brasileira na Antártica. A Operação Antártica XXXI conta com a participação de cinco embarcações - o navio polar "Almirante Maximiano", o navio de apoio oceanográfico "Ary Rongel" e o navio de socorro submarino "Felinto Perry", da Marinha do Brasil; o navio de apoio logístico "Ara San Blas", cedido pela Marinha da Argentina; e o navio mercante "Germania", fretado para apoiar o desmonte da EACF e a instalação dos MAEs.

Somados às vagas oferecidas em bases em terra por outros países, os lugares nos navios permitiram que cerca de 200 cientistas brasileiros pudessem continuar suas pesquisas este ano no continente gelado.

- Enquanto a nova estação não ficar pronta vamos apresentar os mesmos procedimentos que tivemos este ano: mais navios e estações que nossos países amigos oferecem de tal maneira que não haja prejuízo para as pesquisas - afirmou Moura Neto. - É o fato de estarmos na Antártica que nos garante manter a posição de membros consultivos do Tratado da Antártica e colaborar para decidir o futuro do continente.