Título: Emancipados, mas sem renda para se sustentar
Autor: Ribeiro, Efrém; Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 20/01/2013, País, p. 6

Nos 29 municípios mais novos do RS, orçamento é à base de recursos estaduais e federais

PORTO ALEGRE O prefeito da cidade de Paulo Bento, Pedro Lorenzi (PV), dá uma sonora gargalhada antes de responder à pergunta:

- O município não gera quase nada de renda, não. Dos R$ 8,5 milhões de orçamento para 2013, só uns R$ 200 mil foram arrecadados aqui. Dependemos totalmente do governo federal e do estado - informa o dirigente.

Longe de ser uma exceção, Paulo Bento, na região noroeste do Rio Grande do Sul, representa uma regra entre os 29 municípios emancipados no estado desde 2000. Mais de uma década depois, a localidade continua sem rede de saneamento básico, com um serviço precário de coleta de lixo, indicadores educacionais e de saúde bem abaixo do recomendado e totalmente dependente dos repasses do Fundo de Participação dos Municípios para sobreviver. Mesmo assim, Lorenzi vai para seu terceiro mandato como prefeito.

Para o presidente da Federação das Associações dos Municípios do Rio Grande do Sul, Ary Vanazzi, a febre de emancipações que varreu o estado no final do século XX pode ser explicada pela índole autônoma dos gaúchos, que preferem ser independentes pobres do que remediados a reboque de alguém. Mas ele reconhece que os encargos crescentes atribuídos aos municípios e a crise econômica atropelaram o sonho de muitas comunidades:

- Até o ano 2000, não havia nada dessas políticas públicas que hoje são atribuições das prefeituras. Em 1988, quando se promulgou a Constituição, a fatia dos municípios no bolo tributário chegava a 27%. Hoje não passa de 13%. Se não mudar isso, as cidades pequenas vão quebrar mesmo.

Em Pedras Altas, o prefeito Gabriel de Lelis Júnior (PPL), reeleito em outubro, contesta estatísticas que põem o município como o pior Ideb gaúcho. Para melhorar o índice, sua receita é fechar escolas:

- Não tem sentido manter unidades inteiras funcionando para atender 20 crianças. Vamos fechar dois colégios e remanejar os alunos.

Em Lagoa Bonita do Sul, a zona urbana tem apenas uma rua. A principal promessa do prefeito Gilnei Luchese (PTB) para se eleger foi abrir mais duas ruas, embora o lixo seja recolhido das 200 casas da cidade apenas uma vez por semana.

- Encontramos as máquinas da prefeitura sucateadas. É preciso muito boa vontade para administrar a cidade - diz Luchese.

Essa boa vontade tem um preço: dono do principal mercadinho da cidade, o prefeito terá um salário de R$ 7,5 mil para administrar a única rua do lugar.