Título: Planalto lava as mãos sobre eleição de Renan
Autor: Krakovics, Fernanda; Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 24/01/2013, País, p. 7

Indiferente às denúncias e ao telhado de vidro do aliado, o vice-presidente da República e presidente licenciado do PMDB, Michel Temer, afirmou ontem não crer que a eleição do líder do PMDB, Renan Calheiros (PMDB-AL), para a presidência do Senado afete a credibilidade da Casa. O vice-presidente da República foi além: afirmou que o amigo pode fazer uma "belíssima gestão".

Renan renunciou à presidência do Senado em 2007 para evitar sua cassação, em meio a denúncias de que um lobista da empreiteira Mendes Júnior, Cláudio Gontijo, pagava pensão de R$ 12 mil e aluguel de R$ 4.500 para a jornalista Mônica Veloso, ex-amante do senador, com quem teve uma filha.

- Não creio (que afete a credibilidade do Senado). Vai depender muito da gestão que ele vier a fazer. Se fizer uma gestão correta, adequada, vai enaltecê-lo, em vez de prejudicá-lo. Mas é o futuro que vai dizer - disse Temer, após conversa de pelo menos 40 minutos com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

- Ele foi o nome escolhido pelo Senado, pelo partido, que tem tradição, e pode fazer uma belíssima gestão. É isso que esperamos - declarou Temer.

A ida do vice-presidente ao gabinete pessoal de Sarney, após receber um telefonema do presidente do Senado, chamou atenção, já que, pelo protocolo, o usual era que o senador fosse à Vice-Presidência da República.

A cúpula do PMDB está preocupada com as acusações que vêm surgindo, no último mês, contra Renan e o líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN), candidato à presidência da Câmara. Este último é suspeito de direcionamento de dinheiro público, proveniente de suas emendas parlamentares, para empresas de funcionários de seu gabinete e pessoas próximas.

Já o Palácio do Planalto procurou manter neutralidade em relação à disputa e negou que tenha preferência por Renan e Henrique Alves para as presidências do Senado e da Câmara. A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, no entanto, avalizou a candidatura dos dois, já que os nomes foram escolhidos pelo partido com o maior número de parlamentares.

ideli: "tivemos dois bons anos de relação"

Indagada, a ministra se mostrou despreocupada sobre a conveniência de o governo ficar tão dependente do PMDB, que ocupa ministérios, a Vice-Presidência da República - e, agora, tem grandes chances de ocupar também os mais altos cargos nas duas casas legislativas federais.

- O PMDB é vice-presidente da República, o PMDB integra o governo em vários ministérios. Nós temos a convicção de que tivemos dois bons anos de relação, com a aprovação de matérias importantes, matérias históricas, a desoneração da folha, (a criação do) fundo de previdência dos servidores e a mudança na caderneta de poupança. Nós fizemos, e acredito que teremos tranquilidade para fazer - disse Ideli Salvatti ontem, durante um encontro com jornalistas.