Título: Leilão de energia eólica poderá incrementar o setor
Autor: Bertelli, Luiz Gonzaga
Fonte: Correio Braziliense, 19/10/2009, Opinião, p. 15

Leilão de energia eólica poderá incrementar o setor

Diretor de Infraestrutura da Fiesp, presidente-executivo do Centro de Integração Empresa-Escola e da Academia Paulista de História

Energia eólica é a produzida pela força do vento. Nos últimos tempos, no Brasil, a figura de Éolo, o deus dos ventos, filho de Zeus, tem inspirado um inusitado movimento de persuasão das autoridades brasileiras, objetivando a concessão de subsídios e financiamentos à construção de térmicas movidas pela ação do vento.

Circula no Legislativo federal projeto que cria um fundo de estímulo à energia renovável, o que beneficiará, além das usinas de bagaço e madeira, as pequenas centrais hidrelétricas e as térmicas eólicas. O estado do Ceará tem se destacado na implantação das mencionadas usinas eólicas. Segundo informes da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a capacidade geradora existente no Brasil das eólicas é da ordem de 550mw. Consoante o mapa eólico de 2001, a região nordestina brasileira tem potencial gerador da ordem de 143 mil mw (10 Itaipu).

Em 25 de novembro haverá leilão de energia eólica, do qual participarão 441 projetos, predominando os do Nordeste, com 332 deles, com capacidade geradora de 13 mil mw. Se o leilão for bem-sucedido, os empresários interessados na energia eólica terão de investir perto de R$ 10 bilhões nos próximos anos, na compra dos equipamentos como aerogeradores e turbinas, ainda quase todos importados, inclusive a sua tecnologia. A maioria das empresas candidatas é de capital estrangeiro e olham para o Brasil com grande interesse.

Sem combustíveis fósseis disponíveis e altamente dependente da importação de energia até os anos 1980, a Dinamarca lidera o aproveitamento das correntes de vento em todo o universo. Desde 1891, os dinamarqueses utilizam o vento como forma de energia, sendo que 20% do seu consumo elétrico provém dessa fonte renovável. Ademais, com o escasso espaço disponível em terra, os vikings instalaram as suas plantas eólicas no oceano, em pleno mar do Norte, a 14km da costa.

São gigantescas turbinas, com mais de 100 metros de cumprimento, fixadas a 20m de profundidade do mar. Os valores dos investimentos são, igualmente, astronômicos, estimados em 470 milhões de euros, saindo muito mais caro que a construção das usinas em terra. A manutenção também é difícil e onerosa. Já contam os nórdicos com oito parques eólicos offshore e são os pioneiros nessas instalações, liderando o fornecimento de turbinas para a Alemanha, Espanha e Inglaterra. Uma pequena ilha de Sanso, no território dinamarquês, com 4 mil habitantes, sedia um projeto piloto de energia eólica, com 10 moinhos instalados no mar.

É fundamental, entre nós, a aprovação de uma política governamental para as eólicas, o que, aliás, está sendo reivindicado, também, pelo setor da biomassa e solar. Com o pré-sal, as energias limpas e renováveis receiam ser atropeladas pelas cotações do petróleo. Inquestionavelmente, a versatilidade do petróleo e seus derivados, aliada à facilidade de transporte e manuseio, são razões suficientes para a sua crescente importância entre nós. O Brasil tem, ademais, uma das matrizes energéticas mais ecológicas do universo, com 50% de toda a energia oriunda de fontes renováveis, o que deveria ser preservado.

O custo da geração de energia eólica é estimado em R$ 230 o mwh, considerado caro quando comparado com a hidroeletricidade e a energia do bagaço da cana-de-açúcar. Não obstante, abaixo das térmicas a óleo diesel, da ordem de R$ 600 o mwh.