Título: Tombini: expansão de 3% é factível
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 26/01/2013, Economia, p. 22
Presidente do BC é cobrado por baixo crescimento
Enviada especial
DAVOS (Suíça) O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, enfrentou ontem uma tarefa árdua: convencer uma plateia de empresários do mundo inteiro, num debate organizado pela rede de TV CNN, no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, de que o baixo crescimento do Brasil em 2012 não significa que o país esgotou seu potencial. Ele garantiu que um crescimento de 3% este ano é factível e que o país crescerá ainda mais no futuro.
- O crescimento virá, está vindo! Este ano os mercados esperam mais de 3% - afirmou após o debate.
Quando um jornalista lembrou que em 2012 os mercados erraram, Tombini rebateu:
- Mas desta vez podem errar para o outro lado.
Ou seja: o Brasil pode surpreender, crescendo até mais. Para Tombini, a prova de que o capital externo entendeu isso é o recém-divulgado estudo da agência para ONU para comércio e desenvolvimento, a Unctad, mostrando que, em 2012, o país foi o terceiro maior destino de investimento direto estrangeiro, atrás apenas de China e EUA.
- Os investimentos estão vindo. Tive a oportunidade de me encontrar aqui com investidores de várias áreas, financeira, seguros, cartão de crédito, que têm o interesse de aumentar os investimentos no Brasil.
Mas, no debate, o tom do jornalista da CNN era outro: as perguntas eram na direção de que estrelas como Brasil e outros Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul) estariam desacelerando, e seus lugares acabariam sendo tomados por países como México e Filipinas. Tombini e o vice-presidente do Banco Central chinês, Yi Gang, contestaram a tese.
A CNN descreveu a desaceleração brasileira de 7,5% em 2010 para 1% em 2012 como "uma espécie de colapso". Tombini respondeu que isso foi necessário porque o país crescia "muito rápido", além de sua capacidade. E que, mesmo assim, o Brasil conseguiu baixar a taxa de desemprego a patamares mínimos.
Já Yi insistiu que o que mais interessa à China agora é a "qualidade do crescimento" e que, num futuro próximo, o país tem potencial para crescer de 7% a 8%, principalmente via consumo doméstico.
Tombini reconheceu que o Brasil tem o desafio de melhorar a produtividade. Mas garantiu que o governo está se preparando para ser mais competitivo, citando a desoneração da folha de pagamento e a redução no custo de energia.
O debate terminou com uma queixa do brasileiro Carlos Ghosn, que comanda a gigante Renault-Nissan e participou do painel. Após dizer que o Brasil enfrenta "muitos desafios", sobretudo de competitividade de sua indústria, ele reclamou dos impostos para carros no país - "os maiores do mundo" - e disse que não entendia como um país rico em minério de ferro não era competitivo no setor de aço.
- Minério de ferro está sendo vendido para a Coreia e volta ao Brasil (na forma de aço) mais barato do que o aço produzido no Brasil. Há algo anormal!