Título: Obama pressiona Congresso
Autor: Barbosa, Flávia
Fonte: O Globo, 30/01/2013, Mundo, p. 32
O presidente Barack Obama deu ontem aval às negociações no Senado para uma ampla reforma do sistema de imigração americano, afirmando que os princípios gerais da proposta apresentada na segunda-feira por oito parlamentares democratas e republicanos são consistentes com os seus, especialmente a criação de um caminho para obtenção de cidadania. Porém, Obama mediu forças com o Congresso, adiantando que se os senadores não conseguirem aprovar rapidamente uma legislação, ele enviará um projeto de lei próprio e solicitará votação imediata, porque "agora é o momento" repetiu quatro vezes, de se consertar o "falido sistema de imigração" e resolver a situação de 11,2 milhões de estrangeiros que vivem nos EUA sem documentos.
— Neste momento, parece que há um desejo genuíno de passar esta reforma rapidamente. E isso é muito encorajador. É importante que reconheçamos que existe o alicerce para ação bipartidária. Mas se o Congresso não conseguir agir de forma expedita, eu enviarei um projeto de lei baseado em minha proposta e insistirei que ele seja votado imediatamente — afirmou Obama.
Bipartidarismo como trunfo
O discurso numa escola de Las Vegas, no estado de Nevada (onde os hispânicos são 27% da população), visou ao mesmo tempo ganhar a opinião pública — Obama deverá viajar para outras cidades tratando de imigração, bem como de controle de armas — e pressionar o Congresso, onde o tema é controverso. Isso porque a proposta de Obama é mais ousada do que a dos oito senadores, que tiveram preocupação de atrair republicanos conservadores.
Primeiro, a Casa Branca propõe um caminho mais direto à legalização e à cidadania, sem condicionar o processo ao reforço prévio da segurança das fronteiras, do controle de imigração e da verificação de status legal de trabalhadores pelas empresas contratantes.
Mas um dos autores da proposta do Senado, o republicano Marco Rubio, voz latina ascendente no partido e possível presidenciável em 2016, deixou claro o quanto a falta de reforço na segurança desagrada os conservadores:
— Eu acho que seria um erro terrível. Temos um grupo bipartidário de senadores que concordou (em condicionar cidadania a reforço prévio de segurança). Tentar mover os objetivos neste tema específico não é bom agouro do papel que ele desempenhará neste tema ou no resultado final. Se este ponto não estiver na lei, eu não a apoio.
Segundo, a proposta oficial quer dar tratamento diferenciado e rápido a jovens que vieram crianças para os EUA, estão matriculados na universidade ou serviram às Forças Armadas por pelo menos dois anos e estrangeiros cujas famílias já têm o green card ou tenham pós-graduação nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (e já tenham uma oferta de emprego).
Terceiro, dá tratamento igual a casais homossexuais, que hoje não têm direito a solicitar residência permanente para o parceiro estrangeiro.
Com aprovação em alta, uma vitória em novembro com mais de 70% dos votos latino e asiático e com 53% da população em favor de uma reforma de imigração que garanta a permanência de ilegais nos EUA, Obama afirmou que o tema está virando senso comum e não se pode permitir que a reforma "atole no debate sem fim"
— Minha esperança é que (minha proposta) dê pontos-chave ao membros do Congresso enquanto eles desenham uma lei, porque as minhas ideias têm tradicionalmente sido apoiadas tanto por democratas como (o senador já morto) Ted Kennedy quanto republicanos como o presidente George W. Rush. Não se consegue esta convergência frequentemente. Então, sabemos onde o consenso deve estar — lembrou Obama, arrancando risos da plateia.
Para o presidente, uma reforma justa deve prever sistemas de controle mais inteligentes, um caminho para que o imigrante conquiste a cidadania — após checagem de antecedentes, pagamento de impostos e multas, aprendizado de inglês e espera — e ajustes para os EUA continuarem atraindo estudantes e trabalhadores talentosos.
Ele, porém, deixou claro que seu governo, em quatro anos, já reforçou a segurança de fronteiras, com queda de 80% no número de entradas ilegais sobre 2000 e aumento exponencial de deportações, especialmente de criminosos. E afirmou que a maioria dos que infringiram a lei e cruzaram as fronteiras não estava em busca de problemas.
Obama argumentou que a economia precisa de um sistema mais justo, que acabe com condições aviltantes de trabalho — que têm efeitos deletérios para os próprios trabalhadores americanos, além de criar uma economia à sombra da legalidade — e permita a máxima contribuição dos imigrantes. Ele citou, por exemplo, que uma em cada quatro empresas de tecnologia surgidas nos últimos anos tem um imigrante como líder. O presidente também apelou à construção dos EUA como país de imigrantes, citando irlandeses,Judeus, europeus e asiáticos que por séculos desembarcam nas costas Leste e Oeste.
— É realmente importante que lembremos nossa História. A não ser que você seja um nativo americano, você veio de algum lugar — ressaltou Obama em Nevada.