Título: Brasil teve presença inexpressiva em Davos
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 28/01/2013, Economia, p. 28

Lacuna é preenchida por outros latino-americanos

Enviada especial

DAVOS (Suíça) No momento em que surgem dúvidas sobre o capacidade de o país retomar o crescimento, o Brasil passou praticamente sem ser notado no Fórum Econômico Mundial, em Davos, este ano. Com uma delegação de pouca projeção internacional, coube ao presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, fazer sozinho a defesa do país. Ele assegurou que o país poderá surpreender com um crescimento acima de 3% este ano.

Os pessimistas históricos de Davos montaram a guarda. O maior deles, o economista americano Nouriel Roubini, quase não mencionou Brasil. Quando falou de emergentes, o assunto foi China. Na única vez em que mencionou o Brasil, numa mensagem no Twitter e em seu blog, foi para dizer que o excesso de intervencionismo nos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) é que prejudica o crescimento.

defensores do Brasil

Mas em Davos o time dos otimistas também foi de peso. Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, disse ao GLOBO que o Brasil foi um dos países mais bem-sucedidos do mundo na redução da desigualdade. Para ele, não há dúvida de que o país tem a faca e o queijo nas mãos para assegurar um crescimento acelerado, já que os fundamentos da economia estão fortes.

Angel Gurría, secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), já apagou da memória o crescimento de 1% do Brasil em 2012.

- O ano passado já passou. Acabou, OK? Em 2013, nosso cálculo é de um crescimento em torno de 4%. É um progresso. E vai acontecer num contexto no qual o crescimento da Europa continuará anêmico e dos EUA, medíocre - disse.

Para Gurría, o esforço que o Brasil tem de fazer este ano para crescer será maior, já que não há um contexto internacional favorável. Mas o crescimento chinês e a recuperação da Índia, diz, ajudarão o Brasil.

Em Davos, este ano, a lacuna do Brasil foi ocupada pelos países que mais estão crescendo na América Latina, como México, Peru, Chile, Colômbia e Panamá. O primeiro-ministro do Peru, Juan Jiménez Mayor, celebrava o fato de seu país estar na moda, com taxas de crescimento de mais de 6% desde 2005 (com exceção de 2009, auge da crise). O Peru deve fechar 2013 com mais de 6% de expansão. Mas ele reconheceu a diferença em relação ao Brasil:

- O Brasil é um país muito grande, tem uma indústria forte demais e é um sonho em tudo o que tem, como a indústria aeronáutica. O Brasil está conectado a outro nível: a competição do Brasil está no nível industrial.

- Ainda não temos essa capacidade - afirmou Mayor.

O premier peruano disse que seu país quer lutar por um tratado de livre comércio com o Brasil. E que não entende por que isso ainda não aconteceu. Para ele, a crise na Europa e nos EUA Unidos gerou oportunidades para a América Latina. Mas o continente, diz, quer que europeus e americanos se reergam, para um crescimento ainda maior dos latino-americanos.

Para o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Luis Moreno, Brasil e México seguem sendo as duas referências na América Latina. Para ele, convém ao Brasil o baixo crescimento para que faça reformas estruturais.

- Mas, como todo brasileiro, o (crescimento do) Brasil vai passar no último minuto do segundo tempo na boca do gol.

Moreno argumenta que não dá para comparar o Brasil a economias pequenas que estão crescendo muito, como Peru, Colômbia e Chile. Estes três precisam estar com suas economias abertas e exportar muito. Isso explica também a diferença de visão de modelo de desenvolvimento no continente.

- Essa diferença de visões tem a ver com o tamanho dos países e ambições políticas diferentes. O Brasil fez muitíssimo pela inclusão social e podemos ver como milhões saíram da pobreza rumo à classe média.

O continente, disse Moreno, tem que fazer reformas estruturais, sobretudo para resolver problemas de produtividade, como o mercado informal, onde trabalham 40% da população ativa latino-americana.