Título: Boate estava com plano de prevenção vencido
Autor: Otavio, Chico; Ilha, Flávio
Fonte: O Globo, 28/01/2013, País, p. 3

Polícia vai investigar responsabilidades de dono de boate e de integrante de banda que usou fogos de artifício

Flávio Ilha, Sérgio Roxo e Clarissa Barreto

Enviados Especiais

Santa Maria A Polícia Civil abriu ontem inquérito para investigar as causas da tragédia na boate Kiss, em Santa Maria. Desde agosto do ano passado, a casa de espetáculos estava com o Plano de Prevenção de Combate a Incêndio vencido. Os investigadores devem apurar tanto a responsabilidade dos proprietários do local quanto dos músicos que teriam utilizado um sinalizador em local fechado.

O delegado Marcelo Arigony, responsável pelas investigações do incêndio, informou ontem que já foram colhidos 17 depoimentos, entre os quais de um dos proprietários da boate. De acordo com Arigony, a conclusão que se pôde chegar é a de que três sinalizadores foram lançados durante o show, e que um deles causou incêndio. Ele adiantou também que ninguém foi indiciado até o momento.

- Tenho informações muito preliminares ainda que num primeiro momento houve sim o fechamento das portas pelos seguranças. Mas não foi de má fé, já que alguns seguranças também morreram.

A polícia já recolheu todos os extintores de incêndio e materiais que resultaram do acidente para iniciar a apuração do que provocou a tragédia. Segundo relato de testemunhas, um extintor teria falhado e impedido um combate eficaz ao fogo. Outro ponto em análise é a existência de apenas uma saída na casa.

Mesmo com o plano de prevenção a incêndios vencido, os investigadores ainda não divulgaram se o restante da documentação da boate estava regularizado.

- Ainda vamos apurar se os alvarás estavam todos em dia e se a casa tinha condições de funcionar. Não sabemos ainda se havia uma saída de emergência. A perícia é que vai determinar - afirmou o delegado.

Segundo a Agência Estado, o delegado Sandro Meinerz, um dos responsáveis pela investigação, afirmou que os integrantes da banda que tocava no local - e cujo uso de fogos de artifício indoor podem ter dado origem ao incêndio - podem ser indiciados por homicídio culposo - quando não há intenção de matar.

- Doloso não, culposo sim. É culpa de quem usou a pirotecnia. A banda sim (poderá ser indiciada), porque a atuação deles é que deu vazão ao incêndio e é preciso checar se eles podiam fazer aquilo ou não - afirmou o delegado.

A Polícia vai iniciar somente hoje a perícia na boate para determinar as causas do incêndio que matou pelos menos 231 pessoas e causou mais de uma centena de feridos, dos quais pelo menos 50 em estado grave.

O governador Tarso Genro considerou prematuro falar em culpados. Segundo ele, as cobranças são naturais e é necessário "apurar rigorosamente" as causas do incêndio.

Buscar culpados, afirmou, seria uma "falta de respeito". Tarso também salientou que o inquérito policial irá verificar as condições de operação da casa noturna:

- Falar em culpa de alguém, agora, é falta de respeito ao trabalho que está sendo feito de maneira solidária. A culpa de alguém vem da apuração das causas e é isso que a Polícia Civil está orientada a fazer da maneira mais rigorosa e técnica que temos à disposição.

De acordo com o comandante-geral da Brigada Militar, coronel Sérgio Roberto de Abreu, o plano de prevenção vencido pode não ter sido determinante para a tragédia.

- Havia somente a necessidade de uma vistoria final, mas a casa vinha de outro alvará e não teria problema. A fiscalização se dá em alguns equipamentos, extintores, iluminação em saída de emergência, etc. Isso estava em andamento, estava em vistoria - afirmou o comandante.