Título: Prioridade da política econômica deve ser investimento
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Fonte: O Globo, 31/01/2013, Opinião, p. 22

O Brasil não foi sugado pela crise que se abateu sobre várias economias importantes do planeta e isso chegou a atrair a atenção dos meios econômicos e dos mercados que influenciam diretamente a decisão de investidores pelo mundo afora. Mas, desde o ano passado, a economia brasileira passou a figurar nas manchetes negativas de renomados veículos especializados em finanças. Na reunião do Fórum Econômico Mundial, que se realiza em Davos, na Suíça, foram poucas as menções à economia brasileira, e nem sempre abonadoras.

Tal mudança de humor pode estar refletindo a perda de dinamismo que se observou nos últimos dois anos. E certamente contribuiu para isso uma série de decisões tomadas pelo governo, começando pela equivocada alteração do modelo de concessões para exploração e produção de petróleo em novas áreas. Hoje, a percepção dos mercados é que tem havido um desmonte nos pilares que sustentaram o processo de ajuste da economia brasileira.

Para recuperar dinamismo, a economia brasileira depende agora de um incremento substancial nos investimentos. E, para isso, os investidores precisam ter confiança no futuro. Na ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o Banco Central deixou claro que pouco pode fazer agora para controlar a inflação pelo lado da demanda, pois, em sua análise, as deficiências de oferta respondem por grande parte da alta de preços.

Essas deficiências de oferta estão relacionadas a investimentos de menos tanto na cadeia produtiva como na infraestrutura, na qual a participação do setor público ainda se faz necessária, até porque o governo só aos poucos retoma os programas de concessões no segmento de transportes, por exemplo.

A julgar pelo comportamento das contas federais no ano passado, o governo não tem conseguido priorizar os investimentos como deveria. Os gastos com custeio do governo central continuaram aumentando mais do que recomendado para um ano em que a arrecadação enfraqueceu, seja pela queda de ritmo da atividade econômica, seja pelo impacto imediato de uma série de desonerações tributárias. Enquanto os gastos se expandiram em 11%, as receitas avançaram 6%.

São fatos como esses que desgastam a imagem da política econômica. E, para agravar esse quadro, o governo recorreu a uma conta de chegar, no apagar das luzes do exercício fiscal, para que o resultado de 2012 se aproximasse das metas inicialmente propostas para 2012.

Espera-se que em 2013 essa experiência frustrante não se repita, e que o governo verdadeiramente priorize os investimentos e controle de fato os gastos de custeio. Sem isso, a imagem da política econômica continuará se desgastando, o que não é nada bom para o país. Pessimismo de investidores hoje é garantia de mais problemas no futuro.