Título: Cargos em jogo na eleição da Câmara
Autor: Braga, Isabel; Fernandes, Diana
Fonte: O Globo, 04/02/2013, País, p. 7

Com apoio do Planalto e da cúpula do PMDB, o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RB) espera ser eleito hoje presidente da Câmara, com o voto secreto dos companheiros deputados. Para garantir a vitória já em primeiro turno, Henrique passou as últimas horas prometendo a eleitores cargos de comando e funções em comissões especiais, além de se manter em articulação com os dirigentes do seu partido, em especial o vice-presidente Michel Temer. A despeito da existência de três outros candidatos, o PMDB estima que Henrique terá cerca de 300 votos. Os mais otimistas falavam em 340.

Se eleito, pela primeira vez em muitos anos o PMDB estará no comando das duas casas do Legislativo. Na sexta-feira Renan Calheiros foi escolhido novo presidente do Senado. Do outro lado, a expectativa é outra: a de que Henrique não alcançará votos para se eleger no primeiro turno - 257 votos se os 513 deputados estiverem presentes.

- Quem é candidato tem que estar otimista. E eu tenho o apoio de 20 partidos da Casa. É muita responsabilidade - disse Henrique, ontem.

Disputam com ele os candidatos do PSB, Júlio Delgado (MG); do PSOL, Chico Alencar (RJ); e a candidata avulsa do PMDB, Rose de Freitas (ES). Como contraponto à atuação de Temer, o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, operou nos bastidores para tentar ampliar os votos de Delgado, buscando apoios no PSDB e no PSD de Gilberto Kassab.

Para aumentar o favoritismo e evitar novas candidaturas, Henrique fez promessas variadas. A Inocêncio Oliveira (PR-PE), que estava sendo estimulado a ser candidato, ofereceu a presidência do Centro de Estudos e Debates da Câmara. Em outra frente, abriu mão de outro cargo que o PMDB teria na Mesa Diretora e deu ao PSC, com 16 deputados, uma das suplências.

Também estavam sendo negociados os comandos de comissões importantes como a de Fiscalização e Controle, que cederia ao PSD, e a Corregedoria, responsável pela investigação interna dos deputados.

- Com certeza terá segundo turno. Os parlamentares votam com olhos voltados para o que o povo está pensando, o debate se acirrou, há o confronto de ideias - disse Rose.

Delgado estava confiante:

- A gente já consolidou o segundo turno. Com certeza, vamos ter alguma fissura na escolha do líder do PMDB e isso pode influir na eleição da Mesa.

- Nossa candidatura é uma afirmação do resgate da imagem da Câmara, desgastada com denúncias. E para promover a aproximação com a população. O distanciamento da sociedade é crítico - disse Chico Alencar, que formalizou ontem a candidatura.

À tarde, manifestantes aposentados protestaram contra a eleição de Alves em frente ao Congresso. Faixas defendiam candidatos fichas-limpas.