Título: Brasileiras são alvo de rede de tráfico na Espanha
Autor: Souza, Andrá de
Fonte: O Globo, 02/02/2013, País, p. 17

Nos últimos sete meses, 34 mulheres brasileiras e estrangeiras exploradas sexualmente na Espanha foram resgatadas por meio de duas operações feitas em parceira pela Polícia Federal (PF) com a polícia espanhola. A última delas, a Operação Planeta, foi deflagrada na quarta-feira, libertando seis mulheres - duas brasileiras, três da Romênia e uma de Serra Leoa - na cidade espanhola de Salamanca. O nome da operação foi escolhido em alusão às duas boates onde elas trabalhavam: Vênus e Marte.

As mulheres eram obrigadas a trabalhar como prostitutas, com o programa custando 40 euros cada. Elas recebiam passagens aéreas, 100 euros para despesas, e seguiam para a Espanha, onde descobriam que haviam contraído uma dívida de 4 mil euros. Elas eram transferidas com frequência para outras casas noturnas, com o objetivo de não ser estabelecido vínculos entre si.

A novela "Salve Jorge", da Rede Globo, que aborda o tráfico de mulheres, contribuiu para o sucesso da operação. "Uma rápida ligação da filha explorada sexualmente, na Espanha, para sua mãe, em Salvador (BA). E a lembrança da mãe sobre as cenas da novela Salve Jorge foram suficientes para que ela percebesse que sua filha é uma das milhões de vítimas de tráfico de pessoas", diz texto divulgado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), ligada à Presidência da República. Segundo a secretaria, a mãe ligou para a Central de Atendimento à Mulher, o Ligue 180. Depois, o serviço acionou a PF.

A primeira operação, batizada de "Palmera", foi promovida em junho de 2012 em Ibiza, e resultou na libertação de 28 mulheres de diferentes nacionalidades, que viviam confinadas em quartos pequenos e superlotados. Elas tinha que prestar serviços sexuais, e metade do valor cobrado ficava com a organização criminosa. Segundo a PF, elas eram controladas pela organização por meio de câmeras instaladas no estabelecimento.

- São em sua grande maioria mulheres traficadas. São jovens, pobres e foram absolutamente aliciadas por sedução de pessoas brasileiras ou estrangeiras, que levam essas meninas. A ida delas quebra seus sonhos, o sonho de ser alguém, de ter alguma autonomia. Elas chegam (ao exterior) confinadas. Ficam presas em porões da casa, dentro das próprias boates, bares, casa noturnas. E elas são exploradas sexualmente - diz a ministra da SPM, Eleonora Menicucci.

O Ligue 180 tem um serviço internacional, criado em novembro de 2011. Ao longo de 2012, recebeu 80 ligações, a maioria da Espanha, Itália e Portugal. Mas apenas quatro das ligações diziam respeito ao tráfico internacional de mulheres. A falta de denúncias, segundo o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, é o principal entrave para o combate ao crime.

- É um crime difícil de ser investigado. Sem denúncia, sem confirmação, nada se faz. Queremos colocar essa operação como paradigma de que, quando as pessoas denunciam, pode se chegar a resultados importantes.