Título: Alves a um dia de realizar velho sonho
Autor: Gois, Chico de; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 03/02/2013, País, p. 29

Em seu 11º mandato de deputado federal em 42 anos de vida pública, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) deve realizar, amanhã, o antigo sonho de presidir a Câmara dos Deputados, mesmo sob suspeitas de irregularidades e de ações questionáveis, que sempre rondaram sua atuação parlamentar. Henriquinho, como é chamado pelos colegas parlamentares, criou uma grande rede de proteção corporativa em seus muitos anos de mandato. Ele conta com a experiência e o apoio forte do vice-presidente Michel Temer (PMDB) para se eleger. Integra a chamada tropa de choque do PMDB, ao lado de Eduardo Cunha (RJ), que deve ser o novo líder da bancada, no seu lugar.

O mais longevo dos deputados em número de mandatos seguidos tem apetite pelo poder, mas só se deu bem na Câmara. Todas as tentativas de alçar voos para o Executivo terminaram em derrotas e dor de cabeça. Ele disputou, e perdeu, duas vezes, a prefeitura de Natal. E em 2002 chegou a integrar, como vice, a chapa à Presidência da República do tucano José Serra. Mas denúncias municiadas pela ex-mulher Mônica Infante de Azambuja, que o acusou de manter US$ 15 milhões em paraísos ficais, fizeram com que renunciasse à disputa. Tempos depois, ele arrumou para ela um emprego na Companhia Nacional de Abastecimento, e o ódio dela desapareceu.

Alves é considerado ativo, influente, rápido no raciocínio e elogiado por todos pela habilidade de negociar nos bastidores. E comete os mesmos "pecados" de grande parte dos parlamentares, e sobre os quais todos no Congresso fazem vista grossa.

Na semana passada, quando o deputado preferiu ficar longe dos holofotes de Brasília, o GLOBO identificou que o parlamentar manteve em seu gabinete um funcionário que mantinha duplo serviço público - foi demitido depois que a reportagem procurou a assessoria do deputado - e um outro que atuou como procurador da TV Cabugi, de propriedade da família de Alves.

O secretário parlamentar Jackson Freire dos Santos, que trabalhava para o deputado desde outubro de 2008, foi indicado para ser tabelião do Cartório de Lajes Pintadas, Comarca de Santa Cruz (RN), no período de 7 de julho a 7 de outubro de 2012. Santos substituiu temporariamente a tabeliã titular, Antonia Ferreira Lima, que disputou a prefeitura daquele município pelo PMDB.

Segundo a assessoria de imprensa da Câmara, o secretário não se afastou das funções, o que é ilegal. Ao ser informado do caso pela reportagem, Alves disse que mandou demitir o assessor.

Mas, a exemplo de Renan Calheiros (PMDB-AL), essas denúncias, aos olhos dos colegas deputados, não devem complicar sua eleição em voto secreto. Apesar do favoritismo, se mais candidatos se apresentarem, além de Rose de Freitas (PMDB-ES) e Júlio Delgado (PSB-MG), a eleição de Alves pode não ser um passeio.

Nesta legislatura, o provável futuro presidente da Câmara destacou-se por alguns enfrentamentos com o Palácio do Planalto e a presidente Dilma Rousseff, que lhe renderam apoio de setores importantes do Congresso, como o dos ruralistas no caso na votação do Código Florestal. Também devem render votos as cobranças diretas que tem feito pela liberação de recursos das emendas parlamentares, interesse direto de seus eleitores.

Mas toda essa movimentação nos bastidores também lhe causou dissabores. Antes do início do governo Dilma, ele bancou a indicação de Pedro Novais para o Ministério do Turismo e saiu chamuscado com a a demissão dele da pasta, sob denúncias.