Título: Emprego e infraestrutura, desafios de Obama
Autor: Barbosa, Flávia
Fonte: O Globo, 03/02/2013, Economia, p. 43
Em seu discurso de posse para o segundo mandato, o presidente Barack Obama estabeleceu alguns dos principais desafios econômicos de sua gestão: investimento em infraestrutura; treinamento de mão de obra; ampliação do mercado externo; reforma tributária; e desenvolvimento de fontes energéticas sustentáveis. Mais que recuperação, essas ações são vistas por analistas como essenciais para resgatar a competitividade e manter a liderança do país na economia global.
Elas serão facilitadas ou dificultadas pelas discussões em torno de um plano a longo prazo de redução do déficit público, que definirá o poder de fogo do governo, em termos de gastos e incentivos. E devem ser complementadas por medidas que sepultem os vestígios da crise iniciada em 2008, como o encerramento de reformas dos mercados financeiro e de habitação.
- O maior desafio de Obama é imediato: evitar que o Congresso aprove um ajuste fiscal severo, que desestabilize uma recuperação que, embora lenta, é consistente - diz o analista Kevin Dunning, da Economist Intelligence Unit (EIU).
Maior economia do planeta, os EUA já saíram da crise. E, mesmo com a retração de 0,1% no quarto trimestre, tiveram expansão de 2,2% em 2012. Têm crescimento projetado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) de 2% e 3%, em 2013 e 2014, respectivamente. O mercado de trabalho contrata há mais de dois anos, mas ainda há falta de 11 milhões de vagas. Os salários continuam estagnados e os investimentos produtivos são cuidadosamente calibrados. Ou seja: o verbo a ser conjugado é acelerar.
Falta mão de obra qualificada
Para o economista Barry Bosworth, da Brookings Institution, a dificuldade em engatar a marcha se deve à mudança nas engrenagens da economia. Os níveis de consumo e construção de imóveis, motores da expansão dos anos 2000, não têm como ser repetidos agora. Com 95% dos consumidores globais no exterior e o mundo gerando 87% de seu crescimento nos próximos anos sem os EUA, o comércio exterior é um caminho óbvio.
Os EUA têm registrado déficits comerciais desde os anos 1980 - chegou a US$ 560 bilhões em 2011 -, e um plano anunciado em 2010 por Obama para dobrar as exportações em cinco anos caminha a passos lentos.
- A recuperação econômica vai demandar a expansão dos mercados de exportação e a eliminação do déficit comercial. Esse foco vai induzir um crescimento do investimento para expandir capacidade de produção e elevará emprego e renda, que por sua vez impulsionarão os níveis de consumo - diz Bosworth.
Infraestrutura, nessa equação, é fator de destaque. Segundo o Relatório de Competitividade Global, do Fórum Econômico Mundial, os EUA ocupam as posições 18, em ferrovias; 19, em portos; 20, em estradas; 30, em aeroportos; e 33, em sistema elétrico.
A Sociedade Americana de Engenheiros Civis fez um cálculo: a diferença entre o investimento necessário em infraestrutura e o projetado entre 2012 e 2020 é de US$ 1,1 trilhão, podendo custar no período 3,5 milhões de empregos, US$ 1 trilhão em negócios, US$ 1,1 trilhão em comércio exterior e, no total, US$ 3,1 trilhões em Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país).
- Se não criarmos um sistema de transporte confiável e eficiente para os custos do século XXI, companhias que operam no mundo globalizado podem simplesmente escolher transferir seus negócios para outro lugar - alerta William Galston, especialista da Brookings Institution.
Outro passo para aumentar a competitividade é a reforma tributária. Obama prometeu no discurso de posse, e o tema está na agenda dos republicanos. A dificuldade é a calibragem. A oposição quer desonerações gerais para as grandes empresas, e Obama quer fazer caso a caso, para poupar a classe média e os programas sociais.
Os EUA não estão em posição favorável entre os países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). O imposto sobre pessoa jurídica tem alíquota de 35% até faturamento de US$ 400 mil - acaba de subir para 39,6% acima disso nas negociações do abismo fiscal, 14,6 pontos acima da média de 25% da OCDE.
Outro tema é a qualificação profissional. A consultoria Deloitte constatou que, num país com mais de dez milhões de desempregados, há 600 mil vagas na indústria. Estima-se que serão necessários 18 milhões de trabalhadores qualificados nos EUA nos próximos anos, mas o país não tem hoje como entregá-los. Por isso, boa parte da comunidade empresarial apoia uma reforma das leis de imigração e a atração de cérebros.