Título: Para Alves, Câmara decidirá sobre mandato de mensaleiros
Autor: Jungblut, Cristiane; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 05/02/2013, País, p. 4

Após participar da sessão de início dos trabalhos legislativos nesta segunda-feira, o novo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), falou rapidamente sobre a polêmica decisão que terá de tomar: acatar a decisão do Supremo Tribunal Federal de cassação imediata dos mandatos dos deputados condenados no mensalão ou defender a tese do ex-presidente da Casa Marco Maia (PT-RS) de que a palavra final sobre os mandatos de deputados é da Câmara.

Indagado se a palavra final seria da Câmara, Alves afirmou que essa é a lógica. Os repórteres insistiram se isso não seria um enfrentamento ao Supremo, e o novo presidente da Câmara respondeu:

- Não. Vai ser finalizado aqui (na Câmara).

Quatro deputados condenados no mensalão exercem mandatos: o ex-presidente da Casa João Paulo Cunha (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP), Pedro Henry (PP-MS) e José Genoino (PT-SP).

O primeiro vice-presidente da Casa, André Vargas (PT-PR), também defende a tese de que cabe à Câmara cassar os mandatos. Segundo Vargas, a Câmara vai se manifestar depois da publicação do acórdão:

- O natural é que qualquer procedimento passe pelos órgãos da Câmara (corregedoria, Conselho de Ética). Fora isso, é cassação sumária.

Além da decisão sobre os mensaleiros, Alves deverá ser questionado sobre denúncias que sempre rondaram sua vida política. Em 2002, elas o impediram de ser o vice na chapa de José Serra na campanha presidencial, acusado pela ex-mulher de manter contas em paraísos fiscais. Já na reta final da campanha pela presidência da Câmara, foi acusado de repassar mensalmente R$ 8,3 mil da cota parlamentar à empresa de um laranja ligado a um ex-assessor do partido.

Em seu 11º mandato como deputado federal e com 42 anos de vida pública, 64 de idade, Henrique Eduardo Alves trabalhou freneticamente nos últimos dois anos, com seu estilo de andar rápido e voz rouca, para ser presidente da Câmara. De família de políticos do Rio Grande do Norte, é filho do ex-ministro Aluizio Alves (governo Sarney) e chegou à Câmara para o primeiro mandato com 22 anos de idade. Na campanha, confeccionou um livro sobre sua trajetória política que custou R$ 25,9 mil.

Nos 42 anos de carreira política, tentou três vezes eleger-se para o Executivo, sem sucesso. Disputou e perdeu, duas vezes, a prefeitura de Natal. Era líder da bancada do PMDB desde 2007, com bençãos do vice-presidente Michel Temer, mas nunca chegou a ser unanimidade.

Nos últimos meses, para consolidar a campanha, Alves assumiu mais tarefas de plenário, tanto na defesa dos interesses dos deputados como na relatoria de matérias importantes - o projeto das novas regras de distribuição dos royalties e a medida provisória que criou o programa Minha Casa Minha Vida.

Nas semanas que antecederam a decisão, a nova enxurrada de denúncias fez com que Alves "mergulhasse", refugiando-se em campanhas pelos estados ou em Natal (RN). A estratégia não foi considerada favorável, segundo aliados: "faltou corpo a corpo, o parlamentar é como qualquer eleitor, quer atenção", afirmam.

Ciente da falta de unanimidade, Alves fez uma plataforma que agradasse aos deputados: defendeu a liberação de emendas por parte do governo, Orçamento Impositivo, novo Pacto Federativo e remodelagem da TV Câmara para "mostrar o trabalho dos deputados nos fins de semana".