Título: Dois militares são suspeitos de matar Rubens Paiva
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 06/02/2013, País, p. 9

"É um alívio profundo recuperar a memória de meu pai", diz Vera Paiva, filha do ex-deputado

A Comissão Nacional da Verdade está próxima de identificar pelo menos dois militares do Exército que tiveram participação na morte do ex-deputado Rubens Paiva. Eles teriam sido os executores. Um terceiro militar já morreu. Para a família de Paiva, a revelação de que o ex-deputado foi torturado e morto nas mãos de militares foi um alívio profundo.

O coordenador da comissão, Cláudio Fonteles, disse ontem que esses dois podem ser as primeiras pessoas convocadas a depor para o grupo. A Comissão da Verdade tem esse poder, mas ainda não lançou mão dele. Fonteles explicou que elaborou um estudo concluindo que os convocados pela comissão são obrigados a comparecer. Se recusarem, podem responder por crime de desobediência.

- Foi uma equipe (que matou Rubens Paiva). E nessa equipe tem os autores imediatos, que executam e matam, e os mediatos, que são do comando.

Vera Paiva, filha de Rubens Paiva, disse ontem que a revelação de que seu pai foi morto pelos militares foi um alívio profundo. Vera fez um apelo para que militares e seus familiares que tenham arquivos e documentos que possam revelar esse passado do país guardados em casa os disponibilizem.

- É um alívio profundo recuperar a memória de meu pai e, ao mesmo tempo, dá esperança para que outros casos sejam esclarecidos. Hoje, a tortura continua. Contra os mais pobres, mais pretos e que pareçam mais homossexuais - disse Vera, que se encontrou no Ministério da Educação com amigos da militância estudantil, reunidos pelo ministro Aloizio Mercadante.

Ela também falou sobre a expectativa da identificação dos militares que mataram seu pai:

- Espero que eles tenham o que meu pai e outros não tiveram: um julgamento justo, com direito a defesa e na vigência dos direitos humanos. Acho que não existe anistia para a tortura, que é um crime inafiançável.

A Comissão da Verdade concluiu que o ex-deputado foi morto, sob tortura, nas dependências do DOI-Codi do Rio, na Tijuca. Isso desmonta a versão oficial do Exército de que Paiva foi sequestrado enquanto estava sob sua custódia.

Paiva foi preso por equipe do Cisa, da Aeronáutica, em 20 de janeiro de 1971, em sua casa, no Rio. Foi entregue ao DOI-Codi no dia seguinte.

- Nós, da família, já sabíamos que o desfecho havia sido esse. Tínhamos informações de boca pequena, de dentro da cadeia. E não responder a essas perguntas era contribuir para matá-lo. Hoje, posso dizer com prova documental que ele foi torturado e morto - completou Vera.