Título: Aécio e Serra no meio do povo
Autor: Pariz, Tiago; Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 21/10/2009, Política, p. 5

PSDB traça viagens para que pré-candidatos tenham mais contato com a população. E garante que o clima não será de campanha

José Serra e Aécio Neves: ideia de giro popular é resposta às críticas do DEM sobre a passividade do PSDB no atual momento de pré-campanha

O PSDB vai adotar a mesma estratégia que tanto critica nas viagens do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com sua presidenciável, Dilma Rousseff: levará Brasil afora os pré-candidatos tucanos para interagir com a população e conhecer os problemas sociais do país. Assim como Lula, para não ter problemas com a Justiça Eleitoral, o partido fingirá que não está em campanha.

Como resposta às críticas do DEM ¿ o principal aliado para 2010 ¿ sobre a passividade neste momento de pré-campanha, os tucanos elaboram uma agenda de viagens para os governadores Aécio Neves (Minas Gerais) e José Serra (São Paulo) fazerem corpo a corpo com a população e não falarem apenas para a parte politizada e filiada ao PSDB. A ideia é mostrar que os petistas não estão mais falando sozinhos.

A cúpula tucana entendeu que não adiantava mais seus dois pré-candidatos participarem apenas de eventos do partido, mesmo que isso os fizesse andar mais pelo país. A lógica é aprofundar Aécio e Serra na conversa com populares, donas de casa, comerciantes e até beneficiários do Bolsa Família, ou seja, a grande massa de brasileiros necessitados. E fazê-los ouvir sobre as necessidades do país nas áreas de saúde, educação, transportes, etc.

A tarefa está sendo tocada pelo presidente nacional da legenda, senador Sérgio Guerra (PE). ¿Não adianta mais participar dos seminários regionais. A ideia não é só falar para os nossos (militantes), é interagir também com a população¿, disse Guerra. Ele ressalvou: ¿Mas com o cuidado de não fazer campanha¿. Aliás, toda cautela é pouca nessa questão. Até porque, com o DEM, o PSDB entrou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em protesto contra a recente excursão presidencial de três dias às obras no Rio São Francisco.

Fase de elaboração As viagens, segundo Sérgio Guerra, não vão priorizar regiões do país ¿ o Nordeste, por exemplo, onde Lula tem os maiores índices de popularidade. ¿A agenda não é geográfica, mas social¿, disse o presidente tucano. Ele não quis revelar por onde começará o giro popular tucano, anunciado depois que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu Guerra, o senador Tasso Jereissati e o governador Aécio Neves para um jantar em sua residência, em São Paulo. ¿Ainda estamos em fase de elaboração (dos roteiros)¿, sustentou o presidente do partido.

O encontro com Fernando Henrique não conseguiu produzir consenso sobre a antecipação da escolha do candidato do PSDB ao Palácio do Planalto. Sérgio Guerra voltou a dizer que essa decisão sairá de um entendimento de Serra com Aécio. ¿Isso será algo entre os dois e eles estão conversando.¿ O governador mineiro deseja que o partido defina seu candidato no fim deste ano. O colega paulista quer empurrar a escolha para meados do primeiro semestre de 2010.

O DEM(1) quer a escolha logo por entender que essa indefinição coloca a oposição na defensiva e inviabiliza acordos nos estados. O líder do partido na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), por exemplo, tem dito que pode se lançar ao governo de Goiás contra o PSDB, numa aliança que enfraqueça os tucanos. Além disso, há dificuldades em fechar palanques competitivos no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Paraná, no Rio de Janeiro, no Maranhão, na Paraíba, no Ceará, em Pernambuco e Sergipe.

1- Queda de braço O presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), e o ex-senador e ex-dirigente Jorge Bornhausen (SC) travam uma disputa interna no DEM sobre quem é o interlocutor com o PSDB nas negociações em torno da eleição presidencial. Maia tem sido preterido nas conversas com o governador de São Paulo, José Serra, que adotou como canal o cacique catarinense. Nessa queda de braço, o deputado federal defendeu o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, como um político mais agregador que o paulista José Serra, nome preferido por Bornhausen.

Não adianta mais participar dos seminários regionais. A ideia não é só falar para os nossos militantes, é interagir também com a população. Mas com o cuidado de não fazer campanha¿

Sérgio Guerra, presidente do PSDB

Barulho sem otimismo

Izabelle Torres

Enquanto percebe que é hora de ir a campo, a oposição faz mais uma tentativa de evitar que o presidente Lula e sua candidata à sucessão, Dilma Rousseff, continuem viajando pelo país usando a estratégia da proximidade com os eleitores como arma eleitoral. Para evitar que os governistas se beneficiem de armas de campanha que os tucanos sabem que já deveriam estar utilizando há tempos, PSDB, DEM e PPS entraram com mais uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O documento afirma: as viagens do presidente pelo país são pretextos para divulgar a candidatura da ministra e para antecipar a campanha de 2010.

A nova ação é a sétima tentativa dos oposicionistas de frear as andanças da cúpula do atual governo pelo país com ações na Justiça. Apesar do barulho que costumam fazer a cada representação, os oposicionistas não estão otimistas. Quatro das sete ações apresentadas desde 2008 já foram negadas porque os ministros da Corte entenderam que não havia provas de que as viagens são realizadas sob pretexto eleitoral. As outras ainda estão sob análise.

Para o presidente do TSE, Carlos Ayres Britto, as decisões anteriores não querem dizer que a Corte tende a negar esse tipo de pedido. ¿O julgamento desfavorável evidencia inconsistência no preparo das representações. Se houver peças bem elaboradas, a tendência é que a Justiça Eleitoral atue mais de acordo com as expectativas.¿

Derrotas e dúvidas Apesar da garantia do presidente do TSE de que o quadro de derrotas da oposição nas ações contra a atual cúpula do Executivo possa se modificar se houver ações mais consistentes, integrantes do DEM e do PSDB ainda tinham dúvidas ontem se a melhor estratégia era mesmo entrar com uma nova representação. Além dos pedidos já negados, pesou na avaliação dos parlamentares o fato de todos desejarem que o candidato tucano à presidência também participe de eventos com ares eleitorais.

Por isso, alguns acreditavam que o desfecho das críticas à viagem do presidente Lula e da ministra Dilma Rousseff às obras de transposição do São Francisco ficaria restrito a um requerimento de informação protocolado ontem na Mesa da Câmara. O documento pedia detalhes à presidência da República sobre os gastos e as funções de cada integrante da comitiva presidencial na viagem, que durou três dias. ¿Vamos pedir informações. Isso é certo. A partir daí, veremos o que fazer. Não sei se a presidência da legenda está pensando em outra coisa¿, comentou o líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), no início da tarde.

O quadro e as perspectivas se modificaram quando deputados das duas legendas começaram a pressionar por uma posição mais radical, tendo em vista as últimas declarações do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, sobre a conotação política das andanças de Lula e Dilma.