Título: Vaticano vê direitos civis de casais gays
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Fonte: O Globo, 07/02/2013, Mundo, p. 31
Num sinal de mudança da Igreja Católica, o ministro do Vaticano para a Família, monsenhor Vincenzo Paglia, encorajou o reconhecimento de direitos civis de uniões fora do casamento, inclusive de pessoas do mesmo sexo. Apesar da defesa de direitos, o religioso reiterou a posição da Igreja contra o casamento entre homossexuais.
- É preciso encontrar soluções no âmbito do Código Civil para garantir questões patrimoniais e facilitar condições de vida para impedir injustiças contra os mais fracos - disse. - Infelizmente não sou um especialista em direito, mas pelo que sei me parece o caminho que precisa ser percorrido.
As declarações do monsenhor ganharam destaque no momento em que França e Reino Unido enfrentam debates acalorados nas discussões sobre a legalização de uniões entre pessoas do mesmo sexo. Mesmo assim, o religioso se manifestou contra a aprovação da adoção entre casais gays, dizendo que a Igreja conhece o preço do que significa "uma família sem filhos, de idosos sozinhos e doentes".
Apesar das restrições no que se refere à constituição da família, o religioso condenou a discriminação contra gays, e lamentou o fato de que em determinados países do Oriente Médio e da África a homossexualidade seja considerada um crime, com a pena de morte como punição prevista. As declarações do monsenhor dividiram a opinião de ativistas e defensores de direitos de homossexuais. Para o presidente da organização gay italiana Equality, Aurelio Mancuso, não houve avanço no posicionamento da Igreja.
- Propor para os casais gays o reconhecimento dos direitos individuais no âmbito do direito privado significa manter a atual situação de ausência de direitos - disse ele.
mal interpretado
A opinião, no entanto, não foi compartilhada por outro ativista.
- Pela primeira vez um alto prelado reconhece que existem também direitos dos casais homossexuais e que no mundo há muitos países onde a homossexualidade é crime - comemorou Franco Grillini, presidente da Gaynet.
Diante da repercussão dos comentários, o religioso disse ter sido mal interpretado.
- Minhas palavras não foram compreendidas e, por isso, não compreenderam também o carinho com que foram pronunciadas. Na realidade, e também por vontade, foram descarriladas de seus trilhos - disse, segundo a agência Ansa.
Na mesma entrevista, o monsenhor reiterou que, para a Igreja, o casamento só pode ocorrer entre homem e mulher. Segundo ele, outros tipos de afeto não podem ser a base de uma "estrutura pública" como o casamento.
Paglio foi designado há um ano para administrar um dos principais ministérios do Vaticano, até então nas mãos do colombiano Alfonso López Trujilo, de perfil mais conservador. O monsenhor é um dos fundadores da Comunidade de Santo Egídio, organização que costuma ter posições menos conservadoras em questões sociais. No mês passado, por exemplo, o Papa Bento XVI alegou que os ataques contra a família católica em diversos países europeus são um perigo para a Humanidade, além de gerarem violência e pobreza.
Durante a conversa com jornalistas, o monsenhor comentou a crise do casamento católico citando o aumento do número de divórcios, de reivindicações pela legalização do casamento gay e da proporção de mães solteiras. Ainda assim, segundo ele, na Itália, 80% dos jovens ainda preferem o matrimônio, civil ou religioso. Entre os 20% restantes, há uma parcela significativa dos que consideram a ideia de morar junto como um período transitório.
- As formas de vida comum não familiares constituem um verdadeiro arquipélago de situações. É claro que é preciso garantir os direitos individuais - disse.
Em outro assunto polêmico, o novo promotor do Vaticano, reverendo Robert Oliver, insistiu, em suas primeiras declarações, que é necessário transparência total nas falhas da Igreja em casos de abusos de padres contra crianças:
- Devemos confrontar nossa situação atual, incluindo nossas falhas, com coragem e determinação, honestidade e transparência.