Título: Indexação e leniência do BC com a meta levam mercado a projetar inflação maior
Autor: D´Ercole, Ronaldo; Justus, Paulo
Fonte: O Globo, 09/02/2013, Economia, p. 22
O fato de o Banco Central não perseguir o alvo da meta de inflação, de 4,5% ao ano, e um grau considerável de indexação que persiste no país levaram a um novo patamar da inflação, em torno de 6%, que deve vigorar nos dois últimos anos do governo Dilma Rousseff. Para os analistas, o BC perdeu crédito e isso tornou-se um obstáculo a mais para que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) volte para 4,5%, mesmo com os juros voltando a subir.
- Desde 2008, com exceção de 2009, o IPCA roda perto de 6%, sistematicamente brincando com o teto da meta. Com isso, a credibilidade do BC está se perdendo e o governo Dilma se transformando num governo que vai entregar uma inflação muito alta - diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.
O tripé formado pela combinação de rigor fiscal, câmbio flutuante e inflação na meta, diz, foi substituído pela dupla juros baixos e câmbio controlado para fazer o país crescer, cuja eficácia se esgotou.
- A brincadeira acabou e a fórmula revela-se altamente inflacionária - arremata Vale.
Para Heron do Carmo, economista da FEA/USP e ex-coordenador do IPC da Fipe, uma evidência de que a economia continua muito amarrada estruturalmente está no fato de que a inflação pouco tem reagido às alterações da política monetária e fiscal, mantendo-se acima de 5,5%.
- A taxa de juros caiu uma enormidade e não houve um efeito sobre inflação, nem sobre o PIB. Mesmo o afrouxamento fiscal, pouco afetou. Tem um peso grande ainda a indexação e o hábito dos brasileiros lidarem com inflação nesse patamar - diz.
Carmo considera que o "sensato" a fazer seria reduzir a meta inflacionária para um nível que exigisse mais disciplina fiscal e monetária.
- Tem que estabelecer, por exemplo, que não vai se mexer no salário mínimo por um período de dois anos, que os novos contratos de aluguel não vão ser reajustados. Isso facilita o controle da inflação.
Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, lembra que 30% do IPCA são formados por preços administrados. O que, combinado à indexação informal de aluguéis, mensalidades escolares e outros serviços, torna ainda mais difícil a administração das metas.
- Essa é uma dinâmica perversa, porque deteriora a renda e, a médio e longo prazo, afeta ainda mais a indústria.
Para Rodolfo Oliveira, economista da Tendências, a inflação mais alta piora o ambiente econômico, minando as expectativas dos agentes.
- O melhor meio de prevenir mais inflação é com inflação baixa - observa.