Título: Venezuela promove uma desvalorização de 31,7%
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Fonte: O Globo, 09/02/2013, Economia, p. 25

A Venezuela anunciou ontem a desvalorização do bolívar em 31,7% em relação à moeda americana. A cotação do dólar passa de 4,30 para 6,30 bolívares, uma diferença de 46,5%. A nova cotação valerá para contratos firmados a partir de 15 de janeiro, informou o ministro de Planejamento e Finanças, Jorge Giordani. Ele ressaltou, porém, que a cotação de 4,30 bolívares será mantida por alguns meses para compra de alimentos e remédios. Foi a primeira desvalorização do bolívar desde janeiro de 2010.

Essa mudança no câmbio, ressaltou o jornal venezuelano "El Universal", permitirá melhorar as contas do governo, que, segundo analistas, encerrou 2012 com déficit fiscal de 16% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos). Além disso, dará alívio ao caixa da estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA), pois esta terá mais bolívares por cada dólar que venda ao Banco Central.

O jornal espanhol "El País" lembrou que a desvalorização da moeda, já em estudo, fora deixada em suspenso após a internação do presidente Hugo Chávez, devido ao temor de uma pressão maior sobre a inflação. A deterioração das contas do governo, porém, levou o vice de Chávez, Nicolás Maduro, a tomar uma decisão.

Líder da oposição critica medida

Segundo o site Prensa Latina, Maduro afirmou ontem que Chávez pediu que o governo concentre seus esforços na economia. Os objetivos seriam manter o crescimento do PIB, projetado em 6% este ano, e controlar a inflação.

A inflação na Venezuela, apesar dos controles cambiais, atingiu 3,3% no mês passado em relação a dezembro. A alta dos preços de alimentos chegou a 5,3%. No acumulado em 12 meses, o índice chega a 22,2% - abaixo dos 26% registrados em janeiro de 2012, de acordo com o jornal venezuelano "El Nacional". Já o índice de escassez atingiu o patamar recorde de 20,4% no mês passado.

O líder da oposição, Henrique Capriles, criticou a desvalorização porque esta pressupõe "entregar o dinheiro dos venezuelanos a outros países". "Sexta-feira de carnaval e o governo vem com uma desvalorização de nossa moeda. Como zombam dos venezuelanos!", afirmou Capriles em sua conta no Twitter. Ele disse ainda que, se Maduro ficar mais algum tempo no governo, "acabará com o país".

Também pelo Twitter, o economista e professor da Universidade Católica Andrés Bello Orlando Ochoa afirmou que, sem melhorar a oferta de dólares no país, a desvalorização só aumentará a pressão sobre a inflação.

Ao lado de Giordani durante o anúncio da desvalorização, feito em rede de televisão, o presidente do Banco Central da Venezuela (BCV), Nelson Merentes, informou que o governo está acabando com o Sistema de Transações com Títulos em Moeda Estrangeira (Sitme), que "cumpriu seu objetivo, mas era imperfeito", explicou.

Será criado, para substituí-lo, o Órgão Superior de Otimização Cambial, que ficará a cargo do Ministério de Finanças, e não mais do BCV, como era o Sitme. Para Ochoa, isso significa apenas que será o ministro Giordani que decidirá para quem irão os dólares. "Custa-lhe entender de economia, o dogmatismo marxista é como uma camisa de força".

Merentes disse ainda que, paralelamente, será ampliado o sistema de abertura de contas em dólares no país, iniciado em junho do ano passado. De acordo com o "El Universal", o presidente do BCV explicou que serão aceitos depósitos, em bolívares, de até US$ 2 mil por mês. O propósito dessas contas, ressaltou Merentes, é atender a pessoas que precisam enviar recursos a parentes em outros países ou receber aposentadorias do exterior.