Título: Equipe econômica admite alta de até 3,5% no PIB
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 11/02/2013, Economia, p. 17

A inflação voltou a ser uma pedra no sapato do crescimento da economia brasileira. Pressionados principalmente por alimentos e serviços, os índices de preços estão preocupando a equipe econômica, que já admite, nos bastidores, uma alta do Produto Interno Bruto (PIB) de até 3,5% em 2013. Isso porque os investimentos, que são o motor do crescimento, ainda não reagiram e podem acabar sendo ainda mais prejudicados caso o Banco Central (BC) tenha que voltar a subir os juros.

Para tentar evitar que isso ocorra, os técnicos estão trabalhando para fazer desonerações como a da cesta básica e a ampliação do número de setores beneficiados pela redução dos encargos sobre a folha de pagamento. Também está sendo preparada uma reforma no sistema de cobrança do PIS/Cofins para torná-lo mais simples, reduzindo, assim, os custos das empresas.

O próprio presidente do BC, Alexandre Tombini, admitiu estar "desconfortável" com a inflação, que registrou alta de 0,86% em janeiro - maior variação mensal desde abril de 2005. Em 12 meses, o índice acumula 6,15%, percentual próximo ao teto da meta de 6,5%. Na última ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC indicou que a política de corte de juros está suspensa e que "em virtude dos ciclos econômicos, reversões pontuais e temporárias" podem ocorrer.

Investimentos vêm caindo

A inflação também não conta mais com a ajuda do câmbio, que contribuía para conter a alta dos preços. Tanto que, para tentar frear a inflação de janeiro, o BC atuou no mercado para baixar a cotação do dólar que estava sendo negociado acima dos R$ 2.

Segundo o ex-diretor do BC e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio, Carlos Thadeu de Freitas, embora seja comum pressão sobre índices de preços no início do ano, uma vez que há aumentos como o de mensalidades escolares e tarifas de transporte, o problema está na expectativa para o resto do ano. Isso afeta as taxas de juros e a confiança dos investidores:

- O governo já deu um aumento para a gasolina e sinalizou que pode fazer outro ao longo de 2013. Ele também conseguiu adiar reajustes de tarifas de transportes que vão pesar nos índices mais à frente. Tudo isso afeta as taxas longas (de juros) cobradas no mercado e prejudica o crescimento.

Pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com 600 empresas do setor de transformação mostrou que o número de companhias que realizaram investimentos vem caindo desde 2010. Entre as entrevistadas 89,6% fizeram investimentos em 2010. O percentual caiu a 88,7% em 2011 e a 80,2% em 2012. Ao mesmo tempo, houve aumento do total de empresas que adiaram projetos. Em 2010, o percentual foi de 0,8%, subindo para 1,3% em 2011 e 3,1% no ano passado.

segundo semestre melhor

A aposta do governo e do próprio mercado é que a inflação vá dar alívio no segundo semestre fechando o ano acima do centro da meta, de 4,5%, mas ainda dentro do intervalo permitido (até dois pontos percentuais para cima ou baixo). Pela pesquisa Focus do BC junto a instituições financeiras, o IPCA terminará 2013 em 5,68% e o PIB, em 3,1%. Mas há incertezas sobre o cenário externo e o comportamento do preço de commodities.

O economista Felipe Salto, da consultoria Tendências, frisou que a falta de investimentos limita a oferta no mercado num momento em que o governo estimula a demanda:

- Isso também acaba gerando pressão inflacionária.

Salto lembrou que se o IPCA ficar acima do centro da meta por um período longo - isso já ocorreu em 2011 (6,5%) e 2012 (5,8%) - o governo pode acabar transmitindo a imagem de não estar comprometido com o combate à inflação, o que também afeta as decisões de investimentos das empresas. Ele projeta um crescimento de 3,2% para o PIB de 2013 e uma inflação de 5,8%.

Segundo o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, se o BC decidir elevar os juros num momento de fraco desempenho do PIB, comprometerá o crescimento da economia também em 2014. Isso porque esse tipo de medida tem um efeito recessivo que se manifesta sobre as taxas com um prazo de até nove meses. Para ele, o governo deve adotar medidas para conter a inflação do lado da demanda e não por meio do aumento da Taxa Selic.