Título: Etanol precisa reconquistar espaço perdido
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Fonte: O Globo, 10/02/2013, Opinião, p. 18

Após três anos seguidos de maus resulta­dos, a safra de cana-de-açúcar a ser co­lhida este ano deverá apresentar um crescimento razoável, superior a 3% na região Centro-Sul, que responde pela maior parte da produção. É um crescimento ainda insuficien­te para atender à demanda pelos derivados da ca­na, especialmente o etanol, mas talvez seja um primeiro sinal de recuperação do setor. A cana tem uma característica peculiar que não permite que se calcule com alguma antecedência, de ma­neira precisa, a produtividade da safra. Somente no período mais próximo ao corte é possível esti­mar os teores de açúcar nela contidos. É claro que são feitas estimativas como base na área plantada, nas condições meteorológicas nas épocas de plantio de novas mudas e no crescimento das já existentes.

O otimismo moderado em relação à possibili­dade concreta de recuperação é que este ano já se consegue obter bons resultados da renovação de antigos canaviais, do uso de variedades mais pro­dutivas, do aperfeiçoamento de técnicas de meca­nização e da entrada em funcionamento de usi­nas modernas.

O setor suctoalcooleiro foi apanhado no contra- pé ao meio de um processo de transformação. A crise de 2008/2009 foi dura com os grupos que se endividaram na tentativa de assegurar ganhos de escala. Se antes empresas com capacidade de moer três milhões de toneladas anuais de cana eram vistas como grandes, em determinado mo­mento cifras inferiores a dez milhões de toneladas deixaram de ser reconhecidas como economica­mente viáveis. O setor entrou, então, em uma fase de fusões e incorporações atrelado a endividamento audacioso. Em consequência da situação financeira desfavorável, investimentos não foram feitos adequadamente, e a queda da produtivida­de agravou esse quadro de descapitalização.

O golpe de morte foi dado pela política biso­nha do governo em relação aos preços de al­guns combustíveis. Ao segurar artificialmente a gasolina por várias safras consecutivas, o etanol perdeu competitividade. Além disso, o álcool não angariou a merecida desoneração tributária, enquanto a gasolina era favorecida.

O resultado é esse desequilíbrio difícil de ser neutralizado no mercado de combustíveis para veículos leves. Com o recente aumento da gasoli­na, as autoridades esperam dar fôlego também aos produtores de etanol, e já acenam com o au­mento de percentual de mistura, de 20% para 25% de álcool anidro, o que pode proporcionar, a partir de abril, uma pequena redução de preços pagos pelo consumidor na bomba. O álcool hidratado, que concorre diretamente com a gasolina, conti­nuará com a oferta limitada.

O que aconteceu com o etanol merece uma re­flexão mais profunda. Em termos de geração de empregos, recolhimento de impostos e, principal­mente, ganhos ambientais, o etanol tem mais im­pacto positivo na cadeia produtiva e na economia brasileira que a gasolina.