Título: Intervenção no câmbio anima investidor
Autor: Sarmento, Claudia
Fonte: O Globo, 13/02/2013, Economia, p. 20

Apopularidade do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, atingiu 71%, segundo pesquisa divulgada pelo jornal "Yomiuri Shimbun", o maior diário do Japão. Para um país que se acostumou a ver seus líderes perdendo apoio popular e renunciando em ritmo acelerado nos últimos anos, o índice alcançado por Abe é um fenômeno e tem uma explicação: sua política econômica, apelidada de "Abenomics", devolveu ao país um clima de otimismo. O mercado de ações subiu 7% em um mês, graças à euforia dos investidores com a queda do iene, que favorece as exportações, e o afrouxamento monetário. Na semana passada, o índice Nikkei alcançou o patamar mais alto em quatro anos, dando à Bolsa de Tóquio o título de melhor performance do mundo. Ontem, nem o teste nuclear norte-coreano derrubou as ações, mas o iene subiu.

Mas as agressivas medidas adotadas pelo governo japonês também despertam temores sobre o futuro. Determinado a acabar com a deflação e o fantasma da recessão, o primeiro-ministro pressionou o Banco Central a adotar uma meta inflacionária de 2% e a injetar mais dinheiro na economia. Além disso, já está em vigor um pacote de estímulo fiscal no valor de US$ 117 bilhões. O resultado dessas políticas foi uma depreciação do iene de quase 20% desde outubro, ajudando a valorizar ações de empresas que vinham sofrendo com a moeda alta, como Panasonic, Sony e Toyota. A pergunta que os analistas vêm fazendo, no entanto, é por quanto tempo será possível sustentar essa fórmula.

A indústria vem dando demonstrações de apoio a Abe, o que já levou especialistas a criarem novos termos para definir as mudanças de rumo na economia japonesa: "abemania" ou "febre Abe". A Sony, que atravessa uma crise e está se reestruturando, já prevê um lucro operacional no atual ano fiscal de US$ 1,4 bilhões, o primeiro resultado positivo em quatro anos.

- Nos últimos anos, o Japão perdeu a confiança no futuro, mas agora estou muito otimista e acredito na capacidade das corporações japonesas de recuperar sua vitalidade - diz Masahiro Sakane, presidente da Komatsu, gigante da área de material de construção.

A desvalorização do iene em tempo recorde colocou o Japão na linha de frente da chamada guerra cambial e o país não deverá escapar das críticas na reunião dos ministros de Finanças do G-20, que começa na sexta-feira, em Moscou. Vários países já deixaram clara sua insatisfação com o que consideram uma manipulação da moeda, prejudicial a outros mercados. Mas no último fim de semana, o ministro da Indústria e Comércio, Akira Amari, ganhou destaque no noticiário nacional ao indicar que a receita monetária deve continuar no mesmo caminho. Numa declaração pouco comum, ele disse que o governo quer ver o índice Nikkei atingir os 13 mil pontos até março.

déficit público: 240% do PIB

Uma outra preocupação dos analistas é em relação a um aumento exagerado dos preços.

- Não há campo para uma explosão inflacionária - garante Koichi Yamada, professor de Yale apontado como um dos principais teóricos da política econômica de Abe.

Existe consenso de que a euforia não vai durar para sempre se o Japão, cujo déficit público pode chegar a 240% do PIB, não implementar reformas estruturais, aderindo a tratados de livre comércio e reduzindo a ajuda a companhias falidas. Para achar a cura permanente para os males da terceira maior economia do mundo, as empresas também precisam fazer mais por um crescimento sustentável, admite Sakane:

- Com a melhoria dos resultados globais, as corporações devem promover aumentos salariais, que levariam a um aumento do consumo, reforçando os princípios da política econômica do governo .