Título: Em três dias, cai total de mortes em estradas
Autor: Souza, André de; Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 12/02/2013, País, p. 4
O número de mortes nas estradas federais nos três primeiros dias do carnaval caiu 25,4% em comparação com o mesmo período do ano passado. Balanço divulgado ontem pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) também mostrou queda de 15,7% no número de feridos e de 2,6% na quantidade de acidentes.
Além disso, o número de testes do bafômetro feitos entre sexta-feira e domingo já superou o realizado durante todo o carnaval do ano passado. Este é o primeiro feriado desde que o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) regulamentou em janeiro as mudanças feitas na Lei Seca. No ano passado, o Congresso Nacional endureceu a legislação, proibindo os motoristas de dirigirem após consumir qualquer quantidade de álcool, e permitindo o uso de imagens e provas testemunhais para atestar a embriaguez do condutor.
De sexta a domingo, a PRF registrou 1.997 acidentes nas estradas federais. Ao todo, 1.098 pessoas ficaram feridas e 97 morreram. Nos três primeiros dias do carnaval de 2012, houve 2.051 acidentes, 1.303 feridos e 130 mortos. Ainda segundo a PRF, apenas nos três primeiros dias do feriado, 42.661 motoristas passaram pelo teste do bafômetro, número 40,2% maior do que o registrado em todo o carnaval do ano passado. Em 2013, 1.055 motoristas já foram autuados, dos quais 338 foram presos.
Segundo a resolução do Contran, o motorista será autuado e multado quando o bafômetro registrar pelo menos 0,05 miligrama de álcool por litro de ar expirado (0,05 mg/l). Dirigir após beber é considerado infração gravíssima, com multa de R$ 1.915. A resolução manteve os limites de concentração de álcool para caracterizar crime: 0,34 mg/l. Nesses casos, o condutor e as testemunhas devem ser encaminhados à Polícia Civil.
O professor de Engenharia de Tráfego da Universidade de Brasília (UnB) Paulo César Marques disse que os números divulgados pela PRF são positivos. Ele destacou que a diminuição da quantidade de mortos foi maior que a de acidentes, o que indica que eles vêm tendo uma gravidade menor. Ressaltou também que a queda ocorre mesmo com o aumento da frota brasileira. O professor disse que ainda é preciso esperar os números finais do carnaval, mas afirmou ser provável a existência de uma relação forte entre a diminuição dos acidentes com mortes e a Lei Seca:
- Existe uma mudança de comportamento em curso. Provavelmente em razão da mudança da legislação, da intensificação da fiscalização e da divulgação que os meios de comunicação têm feito. Isso muda o comportamento das pessoas. Não significa que tenham mudado seus valores, alterado sua consciência. Mas muda o comportamento em razão das possíveis consequências dos seus atos, em relação às autuações, o valor da multa, as consequências penais.
O advogado Paulo Castelo Branco, especializado em trânsito, destacou que ainda é cedo para dizer que o endurecimento da Lei Seca levou à diminuição do número de mortes e acidentes neste carnaval. Ele defendeu a lei, dizendo que bebida e direção não combinam, mas sublinhou que a fiscalização mais intensa tem um papel importante:
- A Lei Seca claro que tem influência importante nesta questão, mas os dados ainda não são suficientes para esclarecer perfeitamente a importância dela nesses fatos. Acho que a publicação, a notícia da fiscalização mais intensa é que leva à diminuição do uso do álcool e direção. Esse é o ponto de vista que tenho, porque é preciso um estudo muito mais prolongado para chegar a essa questão definitiva. Claro que não tenho dúvidas de que dirigir e beber não é uma coisa boa.
Também ontem, a presidente Dilma Rousseff propôs, em seu programa semanal de rádio, um pacto por um carnaval seguro. Dilma, que está na Bahia, defendeu as mudanças na Lei Seca.
- Às vezes, o motorista pensa que se beber apenas um chope, uma cerveja ou uma taça de vinho não tem problema, mas a gente sabe que tem. Quem bebe fica com os reflexos muito mais lentos, não consegue usar, por exemplo, os freios com a rapidez necessária e pode causar um acidente muito grave para ele, para a sua família e para outras pessoas - disse a presidente.
Ela lembrou que, de cada cinco acidentes nas estradas do país, um é provocado por motorista que estava sob efeito do álcool. Por isso, destacou, foi estabelecida tolerância zero para quem misturar bebida com direção de automóvel ou de moto.