Título: Ketchup de US$ 28 bi
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Fonte: O Globo, 15/02/2013, Economia, p. 21

A dieta típica americana está dominada por brasileiros. Além de cerveja, refrigerante e hambúrguer, por meio da Ambev e do Burger King, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, donos da 3G Capital, agora também detêm uma das mais tradicionais fabricantes de ketchup e mostarda do mundo, a Heinz. O fundo, junto com a Berkshire Hathaway, do bilionário americano Warren Buffett, comprou a empresa de 143 anos por US$ 28 bilhões, sendo US$ 23,2 bilhões em dinheiro e ações, e o restante, em rolagem de dívida. A operação representa o quarto maior negócio de fusões e aquisições de bebidas e alimentos de todos os tempos e o maior deste ano. E combina as ambições na indústria de alimentos dos fundadores da 3G Capital com a busca de Buffett por crescimento.

Para ficar com a Heinz, a Berkshire e a 3G pagarão US$ 72,50 por ação, um prêmio de 19% sobre o até então maior patamar histórico do papel da companhia - US$ 61. As ações da empresa fecharam o pregão de ontem na Bolsa de Nova York no maior valor de sua história, exatamente igual ao ofertado pelo trio brasileiro e Buffett, com uma alta de 19,87%.

As duas empresas têm histórico de investimentos no setor de consumo. A Berkshire detém quase 9% da The Coca-Cola Company, mais de 2% na Procter & Gamble e 1,4% no Walmart. A 3G controla a maior cervejaria do mundo, a Anheuser-Busch Inbev, junto com a Interbrew International - o grupo que controla a brasileira Ambev. Em 2010, o fundo comprou o controle do Burger King por US$ 3,3 bilhões e abriu o capital da empresa, cujas ações fecharam ontem em alta de 1,66%.

Para Buffett, o negócio representa uma incomum parceria com um grupo de private equity para uma grande aquisição, considerando que historicamente suas compras foram feitas por conta própria. Ele afirmou ontem que seu interesse na Heinz data dos anos 80, mas o negócio tem sua origem na 3G. Segundo uma fonte a par do assunto citada pelo "New York Times", Lemann levou a ideia à Berkshire há dois meses. Buffett gostou e ambos se aproximaram do presidente-executivo da Heinz, William R. Johnson. Buffett já estava em busca de uma compra na casa dos US$ 20 bilhões. A última vez que ele fez um negócio similar foi em 2008, quando a Berkshire ajudou a financiar a compra da Wrigley pela Mars por US$ 23 bilhões.

marca tem 143 anos

Para a 3G, a aquisição da Heinz - que no Brasil é dona da Quero Alimentos há cerca de dois anos, quando comprou 80% da fabricante brasileira por cerca de R$ 1 bilhão - é um complemento natural para o Burger King. Telles e Sicupira são membros do Conselho de Administração da rede de fast food e, junto com Lemann, fazem parte do conselho da AB Inbev.

De acordo com a Heinz, o negócio será fechado com recursos da Berkshire e da 3G, além de rolagem de dívida e financiamento de JP Morgan e Wells Fargo. Buffett afirmou que a Berkshire e a 3G serão parceiras com fatias iguais e que a operação da companhia será feita pelos brasileiros. Segundo Buffett, a "Heinz será o bebê da 3G":

- Esse é meu tipo de negócios e meu tipo de parceiro. A Heinz é o nosso tipo de companhia, com marcas fantásticas.

Além de deter marcas conhecidas nos EUA, como as batatas fritas Ore-Ida, a Heinz tem tido excelente performance, cumprindo, portanto, as exigências de Buffett. Nos últimos 12 meses, as ações da empresa na Bolsa de Nova York subiram quase 17%. A Heinz, de 143 anos e cuja sede continuará em Pittsburgh, também fabrica alimentos para bebês e elevou suas vendas nos últimos oito anos.

Após o anúncio da operação, a 3G afirmou que é cedo para dizer se haverá cortes de custos na Heinz, cujo presidente disse que não tratou do assunto.

"Olhamos para frente com a parceria com a Berkshire Hathaway e a 3G Capital, ambos investidores amplamente respeitados, no que será um novo e excitante capítulo da história da Heinz", informou Johnson.

Segundo relatório da unidade de risco financeiro da Thomson Reuters, a aquisição é a quarta maior no setor de alimentos e bebidas, atrás da compra da Kraft Foods por um grupo de investidores por US$ 61,5 bilhões em janeiro de 2007. A fusão da Anheuser Busch pela Inbev foi a segunda maior do setor, em junho de 2008, por US$ 60,4 bilhões. E imediatamente à frente da aquisição da Heinz aparece a compra da Kraft por novos investidores, em setembro passado, por US$ 36 bilhões.

Paralelamente, a AB Inbev informou que revisou os termos da aquisição do grupo mexicano Modelo por US$ 20,1 bilhões, para contornar objeções do governo americano de que a operação restringirá a concorrência.