Título: Fundos dirigidos por equações exigem pesquisa antes de aplicar
Autor: Haidar, Daniel
Fonte: O Globo, 18/02/2013, Economia, p. 21

Baseados somente em resultados de modelos estatísticos e conjuntos de equações, os chamados fundos quantitativos estão se popularizando. Com base em pressupostos teóricos dos gestores, esses fundos tentam antecipar tendências do mercado a partir do histórico de cotações de ações e derivativos ou até de resultados financeiros de empresas. Fundos de ações ou fundos multimercados costumam adotar essa estratégia e ainda são poucos no mercado.

Segundo levantamento da consultoria Economática, alguns dos fundos mais conhecidos renderam de 7,92% a 13,99% em 2012, ou seja, pouco acima da variação do Ibovespa (7,40%). Mas, como qualquer investimento, o modelo enfrenta ressalvas de alguns especialistas, que só recomendam a aplicação se o cliente tiver total confiança na capacidade da gestora. Afinal, não é fácil para o investidor mediano entender os parâmetros envolvidos, e as equações não são expostas nos prospectos dos fundos, justamente porque são o diferencial de cada produto. Especialistas recomendam observar justamente a persistência da performance antes de investir em um fundo, mesmo que isso não seja garantia de sucesso futuro.

— Rendimento superior ao índice de referência em um ou dois anos é insuficiente para dizer que é um fundo vencedor. É importante que o investidor confie plenamente no gestor que bolou as regras. Não se deve analisar apenas os fundos que existem, mas também os que deixaram de existir — diz Rafael Paschoarelli, professor da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do site Comdinheiro.

Outros riscos apontados nos quantitativos são as chances de os operadores se equivocarem nos cálculos, mais um motivo para confiar na capacidade do gestor.

— Se o mercado fosse tão matemático, a vida era muito fácil. As pessoas continuam acreditando que meia dúzia de equações governam o universo. Duvido que esses fundos consigam manter desempenho consistente ao longo do tempo — diz William Eid Júnior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Economista vê eficiência

Mas alguns especialistas veem vantagem nesse modelo de gestão, livre da influência emocional de um operador.

— Sou favorável a esse tipo de produto, porque vai na direção de mais eficiência do mercado — diz o professor da USP Rodrigo De Losso Bueno.

Com capacidade de operar em alta frequência — transações em milissegundos — por uma estrutura de servidor e transmissão de dados que custa R$ 8 mil por mês, a XP Gestão mantém um fundo quantitativo que obteve rendimento de 13,98% no ano passado. Os modelos são refeitos quando necessário, mas um software gira os negócios automaticamente a partir das premissas da equipe do gestor Bernardo Ferreira. Ele mesmo fica atento a distorções do mercado para intervir se for necessário, como quando notou uma ordem atípica de uma corretora para adquirir um tipo de derivativo por patamar bem superior ao negociado no momento. Aproveitou a ultravelocidade para vender minicontratos futuros de Ibovespa na cotação momentaneamente alta. Ele lembra que esse tipo de fundo também é importante no mercado para aumentar a liquidez dos negócios.

— Nossa finalidade é ganhar dinheiro, mas nossa maior importância é dar liquidez — diz.

Já a Kinea, subsidiária do banco Itaú de investimentos alternativos, tem um fundo quantitativo denominado Kinea Sistemático, que não opera em alta frequência nem roda automaticamente por programa de computador. O fundo recebe filtros para ficar fora de ações afetadas por eventos corporativos ou fatores externos. Além da série histórica de cotações, por exemplo, usa indicadores específicos, como o lucro líquido do balanço da empresa nas suas projeções.

— Fizemos uma série de alterações no modelo para adequá-lo ao novo ambiente com forte intervenção do governo no setor elétrico. Tentamos garantir que modelos estejam compatíveis a cada situação de mercado — diz Gustavo Aleixo, gestor do Kinea Sistemático, que rendeu 12,59% em 2012 e é restrito a clientes mais qualificados do Itaú.

Mas Aleixo vê maior risco na automação das ordens de compra com a operação de um software, como ocorre nos fundos de alta frequência:

— Automatizar a execução acaba ocasionando uma série de riscos operacionais. No mercado americano, já houve casos de erros que causaram grandes prejuízos.

O físico Roberto Denadai, sócio-gestor da RMW Investimentos, é outro que faz um controle manual das operações a partir das indicações dos modelos utilizados pela gestora.

— Tudo que o o modelo manda fazer, a gente faz. Mas não somos automatizados — explica Denadai, que obteve ganho de 13,99% no Azul Quantitativo.