Título: Correa chega ao 3º mandato
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 18/02/2013, Mundo, p. 23
Como esperado, Rafael Correa obteve ontem uma esmagadora vitória nas eleições presidenciais de seu país, tornando-se o primeiro presidente da História do Equador a conquistar um terceiro mandato consecutivo. Segundo pesquisa de boca de urna da consulto-ria privada Opinión Pública, o chefe de Estado, que chegou ao poder em 2007 e foi reeleito — após uma reforma Constitucional — em 2009, ficou em primeiro lugar com 61% dos votos. O segundo colocado, que no discurso de encerramento de campanha prometera obrigar Correa a disputar um segundo turno, foi o ex-banqueiro Guillermo Lasso, que obteve apenas 20%. O chefe de Estado, que há quatro anos alcançara 51,9%, teria obtido vitória em todas as 24 províncias equatorianas.
— Ninguém pode parar esta revolução! — disse o presidente, eufórico, na varanda do Palácio Carondelet, em Quito. — Os poderes coloniais não estão mais no poder; vocês podem ter certeza de que, nesta revolução, quem comanda são os equatorianos.
Em eleições passadas, Correa fora derrotado em regiões como a Amazônia. Fortalecido, o presidente falou com a imprensa antes mesmo da confirmação dos primeiros resultados oficiais. Ele dedicou seu triunfo ao presidente da Venezuela, Hugo Çhávez, internado em Havana desde meados de dezembro passado.
— Ou mudamos o país agora ou não mudamos mais, é uma oportunidade histórica — declarou Correa, que aproveitou para criticar seus opositores, entre eles os meios de comunicação.
Depois de mencionar seus rivais nesta disputa, o chefe de Estado assegurou que "outro dos grandes derrotados é a imprensa mercantilista, que se dedicou a conspirar"
— Queremos uma verdadeira comunicação social e não ser manipulados por méia dúzia de famílias — declarou Correa, que se comprometeu a "lutar, agora com a maioria na Assembleia Nacional, por uma lei de comunicação que permita uma imprensa mais decente no Equador" A sensação entre analistas locais é de que o presidente vai radicalizar o que chama de "socialismo do bom viver" Isso poderá significar mais políticas sociais e, também, maior controle do Estado, da Justiça e de setores que representam uma ameaça para a revolução, na visão de Correa, como a imprensa. O próprio presidente, que venceu as eleições de 2006 afirmando que acabaria com uma "longa noite neoliberal no Equador" antecipou suas intenções durante seu último discurso de campanha, feito na quinta-feira passada:
— Vamos tomar irreversível a revolução cidadã.
MAIORIA GOVERNISTA CRESCE NO CONGRESSO
O chefe de Estado confirmou sua dupla vitória: mandato novo e controle do Congresso. De acordo com analistas, o presidente deverá aumentar o número de congressistas da governista Aliança País de 61 para cerca de 69 dos 137 membros do Parlamento local. Com essa maioria em suas mãos, Correa terá o caminho livre para avançar na aprovação de novas leis.
— Com um respaldo popular tão expressivo será muito mais fácil negociar alianças no Parlamento — observou Franldin Ramírez, da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso).
Segundo ele, "a surra" dada pelo presidente nèstas eleições foi possível graças a um governo que atua, resolve problemas, constrói estradas e atende às demandas sociais. Na visão do analista, isso é algo que antes não acontecia.
— A questão democrática parece estar em segundo plano para os equatorianos, que dão mais importância à estabilidade econômica e à gestão de governo do qup ao perfil autoritário de Correa — assegurou o analista.
Nos últimos quatro anos, Correa ampliou sua base de apoio eleitoral e, no mesíno período, a oposição não conseguiu construir uma alternativa real de poder ao presidente. Além de Lasso, foram derrotados outros sete candidatos opositores, entre eles o ex-presidente Lucio Gutiérrez (2003-2005) e o magnata Alvaro Noboa.
Ao contrário da oposição venezuelana, que em outubro passado desafiou Hugo Chávez com um candidato único nas últimas eleições presidenciais, o recentemente reeleito governador do estado de Miranda, Henrique Capriles, no Equador, não houve acordo entre os opositores. Derrotar Correa com sete candidaturas opositoras foi, na visão de analistas locais, suicídio político.