Título: Yoani Sánchez inicia no Brasil turnê internacional
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Fonte: O Globo, 18/02/2013, Mundo, p. 25

Cinco anos e 20 tentativas frustradas de deixar Cuba depois, a blogueira e dissidente cubana Yoani Sánchez conseguiu ontem, finalmente, viajar ao exterior — o teste mais esperado da reforma da lei de migração que, desde 14 de janeiro, facilita os trâmites para que os cidadãos cubanos saiam do país. Após rápidas conexões na Cidade do Panamá e em Recife, ela é esperada hoje na Bahia, em Feira de Santana, onde participará de uma exibição do documentário "Conexão Cuba-Honduras" do cineasta brasileiro Dado Galvão.

O Brasil, porém, é apenas o ponto de partida. Yoani, de 37 anos, deve percorrer mais de 12 países numa viagem de cerca de três meses. Ela escolheu uma saia azul e uma camisa branca para os voos e chegou ao aeroporto de Havana acompanhada do marido, o jornalista Reinaldo Escobar, e do filho Teo, de 14 anos. Até o último minuto, temendo ser parada pelos guardas de imigração, ela relatou todos os procedimentos, passo a passo, pelo Twitter. E postou fotos de sua mala, bem marcada pelo logotipo GY, Geração Y, o blog que a tornou famosa — e enfureceu o regime castrista.

"Consegui passar pelo posto de controle de imigração. Agora só falta embarcar no avião e decolar:-)" escreveu.

A ativista, que pretende "denunciar com força os limites da reforma migratória para cubanos que vivem dentro e fora da ilha" e "narrar todos os direitos que faltam" parecia incrédula.

"Meu nome não soou nos alto-falantes, não me levaram para uma sala para me despirem ou para me repreender. Tudo está saindo bem" disse pelo Twitter, contando ainda que está levando para a turnê o livro "Un viejo viaje" (Uma velha viagem), de Manuel Pereira.

Seu último post de solo cubano ocorreu por volta das 13h (hora de Brasília):

"A angústia é um componente inerente a toda viagem a partir de Cuba. Creio que relaxarei um pouco quando o avião decolar!" contou ela.

‘VOLTA AO MUNDO EM 80 DIAS’

Yoani viveu na Suíça entre 2002 e 2004 e, desde então, não conseguiu mais deixar Cuba, ainda que tenha sido laureada com vários prêmios internacionais pelo ativismo na área de direitos humanos. Cuidadosa, fez questão de deixar claro seu apoio a outros cubanos ainda impedidos de deixar o país.

A reforma migratória do presidente Raúl Castro determina que, desde o último 14 de janeiro, para sair do país basta apenas o passaporte em dia e o visto para o país de destino. Mas certas restrições foram mantidas — o regime ainda pode, por exemplo; negar o passaporte a qualquer um por razões de "interesse público" "segurança nacional" e para profissionais considerados "vitais" para o país, que necessitam de permissão especial das autoridades.

Ativistas como Yoani e a líder das Damas de Branco, Berta Soler, conseguiram seus documentos. Ex-presos políticos libertados nos últimos anos, porém, tiveram seus passaportes negados.

Yoani assegurou que vai retornar.

— Isto será como a volta ao mundo em 80 dias — brincou a cubana, no aeroporto. — Não quero ficar mais porque não gosto de estar por muito tempo longe da minha família.

A viagem promete polêmicas já no Brasil. Segundo a revista "Veja" o embaixador de Cuba em Brasília, Carlos Zamora Rodríguez, teria organizado uma reunião no dia 6 de fevereiro, com militantes de partidos de esquerda, para montar uma estratégia para denegrir a imagem de Yoani. Um funcionário da Secretaria Geral da Presidência teria, ainda, comparecido ao encontro. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) pretende convocar os ministros Antonio Patriota (Relações Exteriores) e Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência), para prestar esclarecimentos sobre o caso no Senado. O governo prometeu investigar.