Título: Governo de São Paulo reforça o atendimento a usuário de crack
Autor: Uribe, Gustavo
Fonte: O Globo, 14/02/2013, País, p. 4

Parentes de dependentes químicos reclamam de demora para internação

Em meio às críticas de familiares e amigos, que reclamam da burocracia e da demora para internação de dependentes químicos, o governo de São Paulo anunciou ontem medidas para agilizar o atendimento na capital paulista. Em visita ao Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), o governador Geraldo Alckmin reconheceu que a demanda de parentes de usuários de drogas por ajuda foi superior à expectativa do poder público e inaugurou uma nova estrutura, anexa ao local, destinada à orientação e ao encaminhamento de parentes que desejam a internação à força, bem como dependentes químicos.

Em janeiro, O GLOBO mostrou que o programa do governo estadual para acelerar as internações compulsórias vinha esbarrando na incapacidade para dar conta do grande número de pessoas que procuravam por ajuda no centro de referência. Na época, à espera de autorização por uma vaga em clínica de reabilitação, usuários de drogas chegaram a aguardar mais de 24 horas em leitos temporários. Ontem, o governador de São Paulo anunciou a incorporação de mais 26 funcionários, entre psiquiatras e clínicos gerais, ao centro de referência e a liberação, nos próximos meses, de mais 185 leitos de internação, que serão somados às atuais 800 vagas.

- A demanda foi muito maior que o esperado, o que mostra que o problema é muito maior do que parece. Então, estamos ampliando vagas e leitos, reestruturando a parte social e aumentando a parte médica - admitiu o governador de São Paulo.

Nos últimos 24 dias, desde que entrou em vigor o programa estadual, foram internados 160 dependentes químicos, dos quais 144 de maneira voluntária, com consentimento do paciente. Os demais foram internados de forma involuntária, com autorização de familiares. Não houve até o momento nenhuma internação compulsória, que só pode ser realizada com laudo médico e autorização judicial. O centro de referência recebeu, até agora, 6.093 ligações em busca de informações e realizou 1.203 atendimentos. A maioria dos dependentes químicos internados é formada por homens (84%) com idade entre 18 e 59 anos (94%). No feriado de carnaval, segundo o governo de São Paulo, foram internados 47 usuários de drogas.

- O crack não tem 25 anos. É uma doença muito recente que passou a ter um caráter epidêmico. Não é um trabalho fácil, mas há que se perseverar neste trabalho - afirmou o governador.

Nos últimos dias, no centro de referência, familiares têm reclamado da demora na internação de dependentes químicos. A auxiliar de limpeza Kátia Quitéria de Oliveira, de 42 anos, por exemplo, tentava ontem internar o filho Jefferson Ribeiro, de 17 anos, usuário de drogas há dois anos. Em busca de ajuda, visitou na semana passada o centro de referência e foi encaminhada ao Centro de Atenção Psicossocial (CAPs) de Ermelino Matarazzo, bairro onde mora. No local, contudo, não recebeu a ajuda esperada.

- Como não fizeram nada, voltei aqui e me encaminharam agora para o CAPs de Guarulhos, onde meu filho mora com a minha filha. Eu não consigo internação em lugar nenhum. É um jogo de empurra-empurra e o meu filho está morrendo para as drogas. A lei não funciona, é um vai-volta que não dá em nada - reclamou a auxiliar de limpeza.

Em nota, a Secretaria da Saúde informou que o atendimento psicossocial é ligado à rede municipal e que a internação é uma "alternativa solicitada somente para os casos mais graves". Ela explicou que orientou a auxiliar de limpeza a procurar o CAPs mais próximo de sua residência uma vez que o seu filho não a acompanhou até o centro.