Título: Senado demite estagiárias por piada com Renan na internet
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 16/02/2013, País, p. 4

Atenta às redes sociais, a direção do Senado Federal demitiu duas estagiárias - uma delas sobrinha do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa - por fazerem uma piada no Facebook com o novo presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL). As estagiárias, uma estudante de Administração e outra, de Direito, postaram a foto de um rato morto por servidores da limpeza do Senado, com a legenda: "E a gente que achou que o único problema aqui fosse o Renan Calheiros". A demissão foi divulgada ontem pelo jornal "Correio Braziliense".

As duas estagiárias contaram que na quarta-feira, véspera do carnaval, os servidores da limpeza mataram um rato que andava pelas dependências da gráfica do Senado, onde funciona o serviço de Administração da Secretaria de Recursos Humanos. A estudante de Administração - que está começando agora seu estágio e vai perder R$ 829 de abono e R$ 130 de vale-transporte - resolveu fotografar o rato morto e postar no Facebook. A brincadeira com a legenda vinculando a Renan foi repetida pela colega de Direito, sobrinha de Barbosa.

Na mesma tarde, as duas foram chamadas para uma reunião no dia seguinte, quando foram confrontadas com a foto da postagem e as duas cartas de demissão.

- Não foi um comentário com teor de piada. Foi uma manifestação particular refletindo o que a população inteira está sentindo, a revolta de ver o Senado reelegendo um presidente que responde a processos. A gente trabalha num ambiente que tem ratos, e ratos provocam doenças. Queríamos mostrar que isso era um problema - justificou ao GLOBO uma das estagiárias.

Faltavam dois meses para a sobrinha de Joaquim Barbosa terminar seu estágio, iniciado em 2011. A amigos, ela negou que o tio presidente do STF tenha intermediado sua contratação para o estágio, e que concorreu com outras pessoas após se inscrever no programa no site do Senado Federal.

Alvo de uma petição defendendo seu impeachment na internet com mais de 1,5 milhão de assinaturas no site Avaaz, Renan, por meio da assessoria, negou ter determinado punição às estagiárias e informou que sequer foi consultado sobre o caso. A Secretaria de Comunicação do Senado divulgou nota oficial para explicar que a demissão se deu em função de um ato de indisciplina. A direção do Senado alega ainda que, além do conteúdo ofensivo, as estudantes postaram a imagem durante o horário de expediente, utilizando ferramentas de trabalho.

- Diferentemente da nota do Senado, nós não usamos equipamento do Senado nem estávamos em horário de trabalho. Usamos nossos celulares para postar no Facebook - explicou uma das meninas.

Questionada sobre como a direção do Senado tomou conhecimento do post relativo ao rato, a assessoria de comunicação da Casa negou que exista um sistema de monitoramento ou rastreamento de servidores nas páginas sociais.

- Não existe nenhum sistema de rastreamento. Alguém viu e comunicou à direção do Senado. Sobre esse assunto, não temos mais nada a acrescentar ao que já foi dito na nota - disse um dos assessores.

De volta à ativa, e aparentemente zen depois do tratamento antiestresse feito num spa em Gramado (RS), Renan divulgou outra nota ontem, considerando "lícita" a mobilização na internet pelo seu afastamento do cargo. Mas não dá mostras de que estaria disposto a atender ao apelo de mais de 1,5 milhão de brasileiros que pedem seu impeachment. Em vez disso, disse que vai trabalhar para garantir gestão austera e um maior desenvolvimento do Brasil.

"A mobilização na internet é lícita e saudável, principalmente entre os jovens. Fui líder estudantil, todos sabem, e também usei as ferramentas da época para pressionar. O número de assinaturas não é tão importante quanto a mensagem, o que importa é saber que a sociedade quer um Congresso mais ágil e preocupado com os problemas dos cidadãos. E assim o será", escreveu Renan, em sua primeira manifestação sobre os protestos. Na nota, ele não se manifestou sobre a demissão das estagiárias.

Na tentativa de impor uma agenda positiva para espantar desgastes no Senado, Renan diz que vai conversar na segunda-feira com o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, para que possam pôr em votação as matérias necessárias ao crescimento do país, de forma sustentável e duradoura: "Do ponto de vista administrativo, teremos no Senado uma gestão austera, com corte de gastos, transparência e o fim da redundância de estruturas".

Ignorando os protestos, o presidente do Senado diz que vai convidar o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, para avaliar, junto com a Casa, como os senadores podem ajudar a economia do país.