Título: G-20 não vai censurar Japão nem condenar guerra cambial
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Fonte: O Globo, 16/02/2013, Economia, p. 22

O grupo das 20 maiores economias do mundo, o G-20, não censurará o Japão por desvalorizar o iene e desconsiderará um pedido feito pelo Grupo dos Sete (EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Canadá e Itália) para conter o uso de políticas econômicas para manipular as taxas de câmbio. Essas são as principais conclusões, de acordo com um rascunho, do texto que será divulgado hoje, ao fim da reunião dos ministros das Finanças e presidentes dos bancos centrais do G-20 em Moscou.

Um participante do encontro, que teve acesso ao esboço do comunicado, disse que o texto não fará menção direta a novas metas de redução de déficit, algo que a Alemanha vinha exigindo, mas que os EUA queriam que ficasse de fora.

Se a mensagem for firmada pelos membros do G-20, o Japão vai escapar de uma censura por suas recentes políticas expansionistas, que levaram à desvalorização do iene.

- No fim, não haverá um grande enfrentamento sobre câmbio, porque ninguém quer arriscar dar um sinal tão negativo - disse outra fonte de uma das delegações do G-20.

O mercado de câmbio entrou em turbulência esta semana depois que o G-7 divulgou um comunicado conjunto afirmando que política econômica doméstica não deveria ser usada de forma a ter como alvo o câmbio, que deveria continuar sendo determinado pelo mercado.

O rascunho indica o tom que será usado no texto, evitando, por exemplo, abordar o excesso de volatilidade do câmbio, disse um dos participantes. O iene, por exemplo, caiu cerca de 20% desde novembro. Ontem, recuou 0,6% frente ao dólar e ao euro em resposta aos detalhes do comunicado.

Draghi: discussão infrutífera

Outra fonte do G-20 disse que qualquer referência sobre taxas de câmbio também não é aceitável para a China, a segunda maior economia do mundo e que detém US$ 3,3 trilhões de suas reservas internacionais em títulos do Tesouro americano.

Após um jantar de trabalho, o ministro japonês das Finanças, Taro Aso, disse não ter recebido qualquer crítica em relação às políticas de seu país:

- Mantivemos nossa política e, consequentemente, isso (o enfraquecimento do iene) ocorreu. Mas essa não foi a nossa meta. Nosso alvo é sair da recessão e da deflação.

Na reunião, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, disse que "as discussões sobre a guerra cambial global são exageradas" e que as taxas de câmbio não estão distantes de seus valores justos:

- Sim, o euro se apreciou e, sim, o iene se depreciou. Mas isso é o resultado de boas políticas na zona do euro e de uma política mais frouxa no Japão. Não há grande desvio do valor justo das principais moedas.

Também em Moscou, mas antes da reunião, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, rejeitou a pressão política sobre o rumo da taxa de câmbio do euro. Para ele, as recentes discussões sobre moedas são "inapropriadas, infrutíferas e autodestrutivas".

- Todo esse debate que tem sido realizado nas últimas semanas é inadequado ou infrutífero. Em todos os casos, é autodestrutivo - afirmou Draghi. - A taxa de câmbio não é uma meta política, mas é importante para o crescimento e a estabilidade de preços.