Título: No DF, falta estrutura para atender mulheres
Autor: Sassine, Vinicius
Fonte: O Globo, 17/02/2013, País, p. 5

SOLUÇÃO PRECÁRIA Única ala de tratamento psiquiátrico é improvisada em presídio; nela só há homens

BRASÍLIA- O improviso do governo do Distrito Federal ignorou as mulheres. É como se, no universo dos loucos infratores na capital do país, elas não existissem. Brasília não tem um hospital de custódia e tratamento psiquiátrico nem um programa de acompanhamento das medidas de segurança aplicadas pela Justiça. A solução encontrada desde 1999 foi improvisar uma ala de tratamento psiquiátrico, anexada ao Presídio Feminino do Distrito Federal. Nessa ala, todos os 90 presos são homens. Já as mulheres com transtornos mentais absolvidas pela Justiça e em cumprimento de medida de segurança não têm um local específico para ficar: estão no Presídio Feminino, junto às outras detentas. O GLOBO identificou quatro casos: duas mulheres na unidade de prisão provisória e duas em regime fechado. O tratamento psiquiátrico se resume a altas doses de medicação.

Uma pesquisa sobre a saúde mental da população carcerária em São Paulo, prestes a ser publicada numa revista científica, mostra a maior prevalência de transtornos mentais entre as mulheres. Os transtornos atingiam 39% das presas, ante 22% dos detentos, no ano da pesquisa (2007).

O estudo foi conduzido por Sérgio Baxter Andreoli, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) especializado em psiquiatria epidemiológica. Ele ouviu 1.192 homens e 617 mulheres. Patologias importantes, como a esquizofrenia, o transtorno bipolar e a depressão graves, eram uma realidade de 14,7% das presas e 6,3% dos homens. O levantamento é um dos únicos existentes em maior escala no país.

— Os homens cometem mais crimes do que as mulheres, mas elas estão mais associadas aos quadros de transtorno psiquiátrico. A mulher precisa de uma atenção maior já na triagem — diz Sérgio Baxter.