Título: Governo vai complementar renda de quem vive em extrema pobreza
Autor: Weber, Demétrio; Souza, André de
Fonte: O Globo, 20/02/2013, País, p. 4

Sob o slogan "O fim da miséria é só um começo", a presidente Dilma Rousseff disse ontem que até 18 de março o governo vai ter tirado da extrema pobreza todas as 22 milhões de pessoas que estão no cadastro do Bolsa Família e ainda têm renda muito baixa. Para isso, serão elevados os benefícios de quem tem renda familiar abaixo dos R$ 70 mensais per capita, recorte dado pelo governo para classificar a pessoa como miserável. A ampliação do programa Bolsa Família vai custar R$ 773 milhões só este ano, com o aumento do valor do benefício de 2,5 milhões de pessoas.

Segundo a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campelo, o governo está acabando com o que chama de "miséria monetária", mas ainda há muita coisa a fazer. Ela admitiu que restam 700 mil "famílias invisíveis", que não foram encontradas pelo governo para começar a receber a ajuda do Bolsa Família.

Lacunas no cadastro único

Dilma enviará as mudanças para o Congresso por meio de uma medida provisória. Ela disse que o Brasil está virando a "página na longa história de exclusão social", e que o novo desafio é encontrar a miséria que ainda não é conhecida pelo governo. Na cerimônia, ela cobrou empenho de governadores e prefeitos para ajudar a achar os pobres que "se escondem dos olhos" do governo.

- Agora que acabamos com a miséria visível, temos de ir atrás da miséria ainda invisível, aquela que teima em se esconder dos nossos olhos, dos nossos programas e das estatísticas oficiais. Quero aproveitar o saudável espírito de disputa que aumenta com a proximidade da Copa e das Olimpíadas para propor informalmente um grande campeonato pela justiça e pela igualdade no país - disse Dilma. - Vamos, todos juntos, governo federal, estados, municípios, desvelar e varrer por completo a pobreza extrema invisível do nosso território.

A presidente reconheceu que ainda há lacunas no Cadastro Único, ferramenta que identifica e inclui os pobres nos programas sociais:

- Vamos todos juntos preencher as lacunas do nosso cadastro único. Preenchê-las com nome, endereço e a tipificação de cada uma das famílias que ainda não recebem os benefícios.

Cobertura ampliada

Dilma lembrou que o Bolsa Família, principal estratégia do programa Brasil Sem Miséria, lançado em junho de 2011, teve o ex-presidente Lula como mentor. Ela disse que agora que o governo está atingindo a meta de retirar 22 milhões de brasileiros da extrema pobreza, é hora de dar educação e emprego de qualidade aos mais carentes.

Foi para sanar uma das principais críticas ao programa social de Lula, de que não previa porta de saída para os beneficiários, que Dilma incluiu qualificação profissional e ampliou a cobertura a jovens e crianças pobres. Desde 2003, a transferência de renda já tirou 36 milhões de pessoas da miséria, segundo o governo.

Dilma comparou os programas de erradicação da pobreza no Brasil às grandes navegações empreendidas pelos portugueses nos séculos XV e XVI. Atacou o que chamou de pequena política e comparou os críticos aos programas de transferência de renda ao velho do Restelo, personagem do poema "Os Lusíadas", de Luís de Camões, um pessimista que não acreditava no sucesso das grandes navegações portuguesas.