Título: Médica dava remédios para sufocar pacientes
Autor: Lomba, Luis
Fonte: O Globo, 22/02/2013, País, p. 11
Paciente da UTI escreveu bilhete pedindo socorro
O técnico de enfermagem Sílvio de Almeida, ex-funcionário do Hospital Evangélico de Curitiba, contou em depoimento à polícia que, além de desligar os equipamentos de ventilação artificial da UTI, a médica Virgínia Helena Soares de Souza dava remédios para dificultar a respiração dos pacientes e, assim, matá-los.
- Ela dava Pavulon, que provoca uma depressão respiratória e ajuda a matar o paciente. A doutora Virgínia entrava fumando na UTI, jogava tamanco nos enfermeiros, usava um apito para chamar os funcionários e dava cartão vermelho em quem fazia algo errado - disse Almeida.
Virgínia está presa desde terça-feira em Curitiba, acusada de "antecipar óbitos". Uma paciente internada na UTI em dezembro de 2012 escreveu um bilhete desesperado pedindo socorro porque estavam tentando matá-la:
- Eram oito da manhã, a médica disse que queria ver se eu aguentava até as quatro da tarde. Se eu não sobrevivesse, é porque não tinha chances. Mas, assim que ela deu as costas, a enfermeira colocou o respirador e disse que não deixaria que fizessem isso comigo.
"Eu preciso sair daqui, pois tentaram hoje me matar desligando os aparelhos", diz o bilhete. Na época, a filha achou que a mãe estivesse delirando por causa da infecção generalizada, mas agora acha que ela foi vítima de tentativa de homicídio e quer punição para médica.
A fisioterapeuta Eliane Campêlo França, que trabalhou na mesma UTI em 1998, disse que presenciou o abandono de pacientes com parada cardíaca:
- Quase todo dia tinha uma parada cardíaca de paciente do SUS. Utilizavam a sigla SPP, que significa "Se Parar, Parou". No SUS, se deu parada cardíaca, ela gritava SPP. As enfermeiras deixavam morrer, não faziam reanimação, nada. Agora, se era paciente de convênio ou particular, vamos lá reanimar, porque dá dinheiro.
Uma equipe de médicos iniciou uma auditoria na UTI.
- O objetivo é garantir que daqui para a frente não se repitam fatos como esses. Estamos levantando os óbitos de 2012 e 2013 - disse Mário Lobato da Costa, do Departamento Nacional de Auditoria do Sistema Único de Saúde e coordenador o grupo de sindicância no Hospital Evangélico.