Título: Correa segue o perigoso rumo de Chávez
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Fonte: O Globo, 22/02/2013, Opinião, p. 20

A democracia é muito frágil no Equador e ela não está em boas mãos com a reeleição de Rafael Correa. Se é inegável que no primeiro mandato (estendido por uma reforma da Constituição) o país avançou social e economicamente, não é menos verdadeiro que Correa tomou o rumo do populismo autoritário de Hugo Chávez. Isto significa enfraquecer as instituições democráticas em favor de um Executivo hipertrofiado, de empreender uma estatização galopante, de desestimular os investimentos privados e de fragilizar pilares da democracia, como a liberdade de imprensa.

O drama de Chávez realça bem as desvantagens de um regime assim, baseado no culto à personalidade. O venezuelano, como típico caudilho, não se preocupou em preparar a sucessão. O resultado, em Caracas, é um regime atônito com a doença do chefe, e que apenas tenta ganhar tempo. Embora Correa garanta que não pretende concorrer novamente, seu partido, Aliança País, obteve maioria absoluta na Assembleia Nacional, o que lhe permitirá alterar a Constituição para fazê-lo. Portanto, é grande o risco de o Equador, de frágeis instituições, embarcar no "correismo" e se ver também num beco sem saída. Porque o modelo de governo personalista e autoritário afugenta os investidores privados. E em países dependentes da cotação internacional do petróleo, como Equador e Venezuela, quando o preço despenca, o Estado entra em parafuso.

A ampla vitória do economista de 49 anos, formado nos EUA, e o domínio da Assembleia Nacional, conjugados com o ocaso de Chávez, credenciariam o equatoriano a se tornar o principal líder dessa corrente latino-americana de regimes que escolheram voltar aos tempos da Guerra Fria, do terceiro-mundismo, da hostilidade ao "império" (os EUA), da aproximação com países contrários aos americanos (Irã, Rússia, China), da formação de blocos como a Alba (Aliança Bolivariana das Américas). É o "socialismo do século XXI", que incorre nos mesmos erros - e em outros, novos - do socialismo que faliu no século passado. Mas o Equador não tem o peso da Venezuela nem Correa, o carisma e o poder de comunicação de Chávez.

As primeiras medidas anunciadas pelo jovem presidente equatoriano são ainda mais preocupantes para a democracia. Ele pretende avançar na lei que cria um Conselho de Regulamentação para a mídia, integrado, em sua maioria, por representantes do governo. Não à toa, a legislação ganhou o apelido de "lei da mordaça". Com ela, Correa quer passar a ler, ouvir e ver na mídia apenas o que lhe convém. Assim como Chávez com a Lei de Responsabilidade Social em Rádio e Televisão, de 2004, e Cristina Kirchner com a Lei de Meios, de 2009 - cuja aplicação integral ainda depende de sinal verde da Justiça argentina. Vão todos pelo mesmo caminho fatídico da autocracia.