Título: Equador caminha para reeleger Correa
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Fonte: O Globo, 17/02/2013, Opinião, p. 14

O presidente Rafael Correa é franco favorito à reeleição, hoje, no Equador . O surgimento na política equatoriana deste economista de 49 anos, formado nos EUA, reduziu a alta rotatividade no poder — nos dez anos anteriores à sua primeira eleição, em 2007, o país teve nada menos de sete presidentes —, mas pôs o Equador na trilha do nacional-populismo de Hugo Chávez, que se vale dos instrumentos democráticos para desconstruir a democracia (fragílima, no caso equatoriano) e produzir um Executivo que tudo pode, em detrimento dos demais poderes, Legislativo e Judiciário .

Em 2008, conforme a cartilha chavista, Correa convocou uma constituinte que elaborou a nova Constituição, incluindo a renovação do mandato do presidente e a possibilidade de reeleição; reforma do Judiciário e nomeação de juízes afinados com o Executivo; e indicação de aliados do presidente para os postos-chave.

O Equador ganhou uma estrutura governamental de corte autoritário , em grau menor que na Venezuela, pois Correa não dispõe, hoje, de maioria no Congresso, embora deva obtê-la após o pleito. A opção pelo bolivarianismo pôs o país no lado errado: hostil aos EUA e companheiro de Venezuela, Bolívia e Nicarágua na Al-ba, e ainda de China e Irã. Todos com o cacoete de se achar os “justos” em luta contra o “império” (EU A), uma reedição do maniqueísmo da Guerra Fria.

Entre outros prejuízos, Quito perdeu o bonde da Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, México e Peru), que vai de velas enfunadas em direção ao comércio com o resto do mundo e a um maior crescimento econômico. Assim como Chávez, Correa surfou nas receitas do petróleo, principal produto de exportação, para ampliar os investimentos em infra-estrutura, saúde pública e educação, além de beneficiar cerca de 2 milhões de pobres com ajuda e assistência.

Segundo o Banco Mundial, o nível de pobreza caiu de 38% em 2006 para 29%. O desemprego baixou de 9,82% em 2007 para 4,71% em novembro de 2012, ano em que o país cresceu 5,2%. Correa transformou, ainda, o Equador no cemitério da liberdade de expressão. Ele considera a imprensa privada sua “maior inimiga” e proibiu os ministros de dar entrevistas. Em 2011, obteve a condenação de três executivos e um jornalista do “El Universo ” à prisão e ao pagamento de multa de US$ 40 milhões por atacá-lo , mas não levou a ação adiante: disse que desejava apenas combater a “ditadura da mídia”.

A jogada mais ousada foi na direção contrária : ofereceu asilo a Julian Assange, do site WikiLeaks, a quem disse, exagerando na falsidade: “Bem- vindo ao clube dos perseguidos.” Com a doença de Chávez, Correa, se reeleito, credencia-se como um dos principais líderes dessa vertente de nacional-populismo a produzir caudilhos e estatização galopante, o que já deu errado na Venezuela.