Título: Funai administra recursos milionários
Autor: Fariello, Danilo
Fonte: O Globo, 24/02/2013, Economia, p. 43

Dinheiro da criação de gado daria oportunidade de autonomia à aldeia

Minaçu (GO) Assim como para muitos moradores do Centro-Oeste brasileiro, criar gado é a esperança de sobrevivência e prosperidade para os avás-canoeiros. O termo de convênio assinado entre Furnas, CPFL e Funai prevê a possibilidade de capacitação para criação de gado. Melhor do que isso, o novo acordo assegura que os índios sejam ouvidos sobre a destinação dos recursos, diferentemente do acordo firmado em 1992.

É Kapitomy"i, o tapirapé que gerou o indiozinho Paxeo e desponta como sucessor de Iawi na liderança dos avás, quem traz da sua tribo de origem a experiência no trato com o gado para corte, uma atividade polêmica, uma vez que aldeias já foram acusadas de arrendar trechos de suas reservas para produtores de gado no Brasil. É o dinheiro vivo resultante dessa atividade que indica aos índios uma possibilidade de autonomia, nunca experimentada, já que os milhões destinados à aldeia sempre foram administrados por algum organismo externo - Funai ou as empresas.

Outra forma de independência financeira procurada pelos índios é a aposentadoria pleiteada para Matxa e Nakwatxa, as mais idosas. Elas já têm visita agendada em uma agência do INSS para dar entrada nos papéis. Demorou um ano, mas Kapitomy"i conseguiu também mais de R$ 2 mil em auxílio-maternidade para Niwatima pelo nascimento de Paxeo, o que lhes permite encomendar na cidade de Minaçu frangos abatidos para alimentação da tribo.

Só R$ 1,2 milhão liberado

Maria Augusta Assirati, chefe da diretoria de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável da Funai, disse que a autonomia e autodeterminação do povo indígena, que podem ser obtidas pela criação de gado, passaram a ser metas com Constituição de 1988.

- Deixou-se de lado a visão de que os índios deveriam ser tutelados pelos brancos. A gente faz as contas e monta o projeto, mas são eles que decidem.

No entanto, mesmo nessa nova fase, as iniciativas ainda não saíram do papel. Do novo convênio firmado em maio do ano passado, no valor de R$ 6,8 milhões, as empresas liberaram em junho para a Funai R$ 1,2 milhão, valor que até hoje ainda não aportou na aldeia. Só na semana passada chegou ao local o primeiro grupo da Funai para fazer um levantamento das condições do grupo e discutir com eles a aplicação dos recursos. ( Danilo Fariello )