Título: Brasileiro nunca gastou tanto no exterior: US$ 2,3 bi
Autor: Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 23/02/2013, Economia, p. 25

Em janeiro, os brasileiros gastaram o valor recorde de US$ 2,3 bilhões com viagens ao exterior. Essa foi a maior despesa registrada desde que o Banco Central começou a registrar tais dados, em 1947. O dólar mais barato beneficiou o viajante no mês de férias escolares. E, segundo o BC, o resultado do comércio de bens e das trocas de serviços do Brasil com o restante do mundo ficou no vermelho em US$ 11,4 bilhões no mês passado. É o pior déficit em transações correntes da História. No mesmo período de 2012, o déficit fora de US$ 7 bilhões.

- Foi acima até do que havíamos estimado por causa de um déficit mais expressivo na balança comercial. E ainda tivemos remessas de lucros e dividendos mais expressivas - disse o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, que espera que os números comecem a melhorar a partir de março, quando a balança comercial será reforçada com exportações de minério de ferro e soja.

Os gastos do turista pesaram mais do que a remessa de lucro e dividendos das filiais de multinacionais. Apesar de terem dobrado o valor dos envios em relação ao mesmo período do ano passado, o impacto nas contas foi de US$ 2,1 bilhões.

Na contramão, no mês passado, o investimento que entrou no país não foi suficiente para cobrir esse déficit em transações correntes. Ingressaram no Brasil US$ 3,7 bilhões para aumentar a capacidade produtiva das fábricas, frustrando as expectativas do mercado financeiro e da autoridade monetária. Em janeiro do ano passado, essa cifra fora de US$ 5,4 bilhões.

Fevereiro não deve ser diferente. Na previsão do BC, o déficit de transações correntes será de US$ 5,7 bilhões e os investimentos chegarão a US$ 3,5 bilhões. Indagado se isso não poderia levantar dúvidas sobre a saúde das contas externas brasileiras, Maciel disse que não:

- A avaliação mensal não permite uma mensuração da relação de investimentos e transações correntes. O ideal é ter 12 meses como parâmetro.

O economista do Banco Espírito Santo Flávio Serrano concorda. Diz que apesar de o resultado de janeiro ter surpreendido negativamente, não é possível dizer que seja uma indicação de que o rombo nas contas externas não será coberto por investimentos. Ele lembra que a balança comercial foi bastante afetada no mês por importações atípicas da Petrobras:

- Devemos ver essa conta melhorar a partir de março.

Segundo o diretor de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, o horizonte é confortável por causa da atração de investimentos.

"A volatilidade mensal dos dados nos leva a manter a expectativa de que, em 2013, o financiamento do déficit em conta corrente será majoritariamente realizado por IED (investimento estrangeiro direto)", disse em comunicado.