Título: Juiz ganha pouco, afirma novo presidente do TST
Autor: Fagundes, Ezequiel
Fonte: O Globo, 24/02/2013, País, p. 16

Primeiro negro a assumir o cargo, Reis de Paula defende reajuste maior e admite que foi vítima de racismo

Pedro Leopoldo (MG) Primeiro negro a ocupar a presidência do Tribunal Superior do Trabalho (TST), cargo que assumirá em 5 de março, o mineiro Carlos Alberto Reis de Paula, de 68 anos, não foge de polêmicas. Ao afirmar que Justiça é investimento, e não despesa, diz que os servidores do Judiciário são muito bem remunerados, mas, segundo ele, o mesmo não ocorre com os juízes, diante das responsabilidades que os magistrados têm:

- A Justiça paga bem. Os servidores do Poder Judiciário são muito bem remunerados, só perdem para servidores do Poder Legislativo - afirma. - Juiz é bem remunerado, mas sofremos uma defasagem. Vamos ter um reajuste de 5%, como todo servidor. Não temos reajuste há seis anos. Eu ganho pouco mais de R$ 15 mil líquidos (R$ 22 mil brutos). Se falarem que é muito, eu digo: pode ser para vocês que ganham salário mínimo, mas, para o que eu faço e pela minha importância, acho pouco. Não interessa qual o valor justo, eu ganho pouco, afirmo que ganho pouco.

Por outro lado, ataca os chamados penduricalhos.

- Esse negócio de penduricalho é o fim do mundo. Juiz não precisa de auxílio, juiz precisa receber um bom vencimento, digno, compatível com sua realidade e com o país que vivemos. Décimo terceiro acho razoável. Agora décimo quarto e décimo quinto, tenha santa paciência.

Amigo do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, ele tem o costume de não falar sobre preconceito racial. Em poucas palavras, diz que o Brasil discrimina e lembra de episódio ocorrido em 1967, quando tinha 22 anos e foi barrado na porta de um baile de debutantes no interior de Minas, por causa da cor da pele.

- Estava no segundo ano do curso de Direito e fui com alguns amigos até essa cidade. O porteiro do clube foi rodeando, mas depois foi claro e disse que naquele tipo de festa os organizadores não deixavam entrar negros. Foi a forma de discriminação mais explícita que vivi. São águas passadas, meu filho - diz ele, logo mudando de assunto no quiosque à beira da piscina de sua casa, seu "cantinho de sossego", em Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, na companhia da segunda mulher, filhas e netos.