Título: Dilma diz a empresários que Brasil tem que abrir os portos
Autor: Damé, Luiza; Fariello, Danilo; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 28/02/2013, Economia, p. 25

A presidente Dilma Rousseff aproveitou ontem a 40ª reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), que reúne empresários, sindicalistas e outros representantes da sociedade civil, para defender a abertura dos portos brasileiros. Ela afirmou que a medida é importante para o crescimento da economia e, reagindo a críticas do movimento sindical, destacou que as mudanças propostas pelo governo não tiram "um milímetro"de direitos trabalhistas.

- O Brasil tem que abrir os portos, mas isso não significa tirar um ou meio milímetro de direito dos trabalhadores portuários. Mantivemos intactos os direitos. Mas (a mudança proposta) implica necessariamente abrir a concorrência - disse.

No discurso de 48 minutos, a presidente falou sobre a importância de o setor privado trabalhar em parceria com o governo para financiar o investimento de longo prazo no país. Segundo ela, o Brasil precisa reforçar a infraestrutura para reduzir os custos das empresas e torná-las mais competitivas.

- É impossível continuar transportando minério e grãos só por estradas. Temos que ter ferrovias e hidrovias - disse a presidente, conclamando os empresários: - Tem de acabar a contradição no Brasil de que ou se faz algo público ou se faz privado. Não temos pretensão de achar que o Estado tudo resolve.

Apesar dos apelos da presidente e do governo, que tenta vender no exterior a ideia de que é rentável e seguro investir em infraestrutura no Brasil no longo prazo, pelo menos um grande investidor estrangeiro pisou no freio em seus desembolsos no setor de portos, a espera do desfecho da votação no Congresso da Medida Provisória 595, que altera as regras do setor.

Grupo já investiu R$ 35 milhões

A Granel Química, empresa controlada pelo grupo norueguês Odfjell Terminals, já investiu R$ 35 milhões na construção de um novo terminal de granéis líquidos em área fora do porto de Santos (com orçamento estimado em R$ 175 milhões), mas suspendeu as obras até que seja definida a situação do terminal que a empresa já tem na área dentro do porto público, que foi reclamada pela Companhia Docas de São Paulo (Codesp) após o vencimento do contrato, em junho.

- Não é que não vamos investir mais, mas demos uma segurada, porque não dá para eu justificar para os noruegueses esse investimento agora com essa insegurança jurídica - disse Ary Serpa Jr, responsável pelos sete terminais da Granel Química no país.

O empresariado vem tendo conversas com representantes do Congresso e do governo para entender melhor a MP 595 e tentar chegar a uma posição conjunta até o dia 7, quando está marcada uma nova reunião com os ministros Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, e Leônidas Cristino, dos Portos.

- Há um esforço do governo, especialmente da ministra Gleisi, em harmonizar a discussão, o que nos entusiasma, mas uma greve como ocorreu na semana passada abala a confiança do mercado e dos demais países com quem o Brasil faz negócios - disse Wilen Mantelli, diretor presidente da Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP).