Título: Brasil tem superávit recorde em janeiro, com R$ 30 bi
Autor: Valente, Gabriela; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 28/02/2013, Economia, p. 27

O setor público economizou, em janeiro, R$ 30,3 bilhões para pagar juros da dívida pública. É o melhor desempenho desde que o Banco Central (BC) começou a registrar os dados, em 2001. No primeiro mês do ano, União, estados, municípios e empresas estatais pouparam 20% da meta de superávit primário para 2013, que é de R$ 155,9 bilhões. Para analistas, essa economia abre espaço para o BC manter os juros básicos em 7,25% ao ano na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana que vem.

- É obvio que isso abre espaço para manter os juros porque sinaliza que a questão fiscal será mais comportada este ano - previu o economista-chefe da corretora Gradual, André Perfeito, ao lembrar que, em 2012, foram feitas várias manobras para fechar as contas.

O superávit primário em janeiro foi suficiente para pagar os juros da dívida pública do mês e ainda sobraram R$ 7,6 bilhões em caixa, o melhor resultado nominal da série histórica.

- O bom desempenho do superávit e a tendência de melhora da atividade econômica em 2013 desenham um bom cenário fiscal - disse o chefe do departamento econômico do BC, Túlio Maciel.

Nos últimos 12 meses, o país acumula déficit nominal de R$ 107,7 bilhões - 2,42% do Produto Interno Bruto (PIB). Esse percentual está em queda há quatro meses por causa dos juros menores e do superávit primário acumulado, que no período somou R$ 109,2 bilhões (2,46% do PIB).

Mesmo com a economia recorde em janeiro, a relação entre dívida pública e PIB, indicador da saúde das contas públicas, ficou praticamente estável em 35,2% do PIB. A desvalorização do dólar, de 2,7% no mês, influenciou porque o Brasil é credor em moeda americana.

Apesar do resultado positivo de janeiro, por causa da alta da arrecadação, há analistas que não apostam que a melhora fiscal terá continuidade. Para o economista-chefe da Votorantim Asset, Fernando Fix, a alta da arrecadação em janeiro não significa retomada da atividade econômica, mas um efeito estatístico do recolhimento de impostos de bancos no mês. Por isso, aposta que o BC subirá os juros a partir de maio.

Já uma das principais medidas tributárias prometidas para dar mais competitividade à indústria não deve sair do papel este ano. O ministro interino da Fazenda, Nelson Barbosa, disse que a reforma do PIS/Cofins representa uma renúncia fiscal elevada, que não pode ser feita no curto prazo, porque empresas e Receita Federal precisam de tempo para se adaptarem.

Além disso, Barbosa afastou o risco de a inflação estar fugindo do controle este ano e disse que o assunto é uma prioridade. Segundo ele, os índices vão começar a cair mais fortemente a partir do segundo semestre, já que a pressão sobre o preço dos alimentos registrada no final de 2012 começou a diminuir.

O ministro interino afirmou ainda que a economia vai crescer mais em 2013. Segundo ele, o aumento no fluxo de caminhões nas estradas, o aumento na produção de veículos, o crescimento na venda de cimento e de papel mostram que a economia está se recuperando.