Título: Grupo planeja invadir área com vuvuzelas e tambores
Autor: Antunes, Laura
Fonte: O Globo, 27/02/2013, Rio, p. 13

Com 70 metros de extensão e sete de largura, a faixa de areia do Forte de Copacabana se tornou o front de uma guerra-babado que promete atingir temperatura máxima no domingo. De um lado, o Exército e os endinheirados frequentadores da praia privê Aqueloo. Do outro, estão os não menos ricos vizinhos do forte, que, nesse caso, ganharam o apoio do povão. Irritados, os moradores, ensurdecidos com o volume alto da música eletrônica, planejam um abaixo-assinado para que o evento não volte no próximo verão, como gostariam os organizadores. Já uma turma gaiata arregimentou mais de mil adesões pelo Facebook e criou o movimento "Nós vamos invadir sua praia". A ocupação, por terra e mar, da área VIP acontecerá no domingo, às 10h, último dia de funcionamento do beach club. Os manifestantes prometem levar vuvuzelas, tambores e isopores. O grupo quer alugar barcos na colônia de pescadores do Posto 6 e fincar uma bandeira pirata na areia. Aguarda-se um bafão daqueles.

A minúscula praia, que só no verão não é engolida pelo mar, funciona como um clube de luxo para quem se dispõe a desembolsar até R$ 250 pelo ingresso para ter acesso ao recanto paradisíaco, equipado com camarotes (ao custo de R$ 20 mil a diária), banheiras de hidromassagem e mordomo à disposição. O complexo é inspirado nos clubes privativos de balneários europeus. DJs animam o espaço, com capacidade para 500 pessoas. O Aqueloo funciona de quinta a domingo, das 10h às 20h. Mas o lugar bomba mesmo a partir dos fins de tarde.

A manifestação, liderada por três amigos que moram em Niterói, correu como rastilho de pólvora na rede social. Até ontem, 1.250 pessoas haviam confirmando presença.

- Fugiu ao nosso controle. Tudo começou como uma brincadeira por conta das notícias sobre a praia privativa autorizada pelo Exército. A indignação cresceu e, de repente, tínhamos centenas de pessoas querendo participar - diz o universitário Guilherme Milner, um dos organizadores.

Barulho irrita moradores

O que irrita o grupo é que a praia é fechada ao público. Agora, abastados podem frequentá-la. Outro cabeça do protesto, Eric Monné diz que um organizador do beach club entrou em contato com os líderes do movimento, pelo Facebook, para tentar dissuadi-los da invasão.

- Ele usou o argumento de que estamos criando confusão por causa de 70 metros de areia quando temos à disposição mais de quatro quilômetros de praia pública - conta Eric.

Moradores do condomínio La Reserve Arpoador, na Rua Francisco Otaviano 15, exatamente ao lado da praia, fazem coro com a turma do "Nós vamos invadir sua praia." A síndica Ruta Gerchenzon conta que o som estremece os apartamentos, debruçados sobre a praia.

- São 72 condôminos que sofrem desde a instalação do clube. No domingo passado, quis sumir de casa - reclama Ruta, que defende um abaixo-assinado para evitar que o evento volte no próximo verão - Nós, moradores, nunca tivemos o direito de usar a praia.

Os moradores do prédio 23 da mesma rua, igualmente irritados, entraram com uma representação no MP Federal questionando a autorização para funcionamento do clube.