Título: Serviço pesa na balança
Autor: Bonfati, Cristiane
Fonte: O Globo, 04/03/2013, Economia, p. 15
O fraco desempenho da balança comercial de serviços - que registrou déficit histórico de US$ 41 bilhões no ano passado, uma alta de quase 150% desde 2008 - acendeu um sinal de alerta no governo, que decidiu montar uma força-tarefa para ajudar as empresas brasileiras que atuam nesse setor a exportar mais. O governo está fazendo uma radiografia do setor para identificar as companhias que exportam serviços, saber que tipo de apoio elas precisam e, com isso, alavancar as suas vendas. Entre os beneficiados estarão empreendimentos que fazem de tudo um pouco, desde projetos de arquitetura e engenharia até participação em feiras e exposições no exterior.
Se, por um lado, a iniciativa busca impulsionar os negócios no país, por outro, revela uma fragilidade do governo, que não tem ideia de quantas e quais são as empresas que exportam serviços, embora o Banco Central tenha dados sobre as transações comerciais desde 1947. O mapeamento dos empreendimentos começou a ser feito em agosto do ano passado com o Siscoserv, um sistema integrado com informações precisas sobre o setor, e deverá ser finalizado em outubro, quando o governo passará a apoiar de forma mais efetiva o comércio exterior de serviços.
- Vamos ter como direcionar todos os nossos esforços, tanto de promoção comercial, quanto de crédito, por meio do BNDES e do Proex, como também por meio de medidas de desoneração tributária - afirmou o diretor Maurício do Val, do Departamento de Políticas de Comércio e Serviços do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Equivalente ao Siscomex, que já existe para o comércio de bens, o Siscoserv contabiliza as transações acima de US$ 20 mil realizadas no setor de serviços. Até agora, o sistema reúne informações sobre uma parcela pequena do mercado, de 2,5 mil empresas que registram operações de importação ou exportação. No entanto, o diretor estima que esse universo gira em torno de 30 mil.
serviços empresariais e técnicos em alta
O sistema já tem dados sobre segmentos como construção civil, remessa expressa, e manutenção de máquinas e equipamentos. Em fevereiro, empresas de serviços financeiros e de tecnologia da informação começaram a fornecer os dados e, em outubro, entram os últimos setores, entre eles saúde e educação. Com isso, o governo identificará as empresas exportadoras, o nível de competitividade delas e os mercados que são receptivos aos produtos comercializados.
O diretor do departamento chamou a atenção para o fato de que, nos últimos cinco anos, o déficit passou a crescer de forma mais acelerada, reflexo de um mercado que importa cada vez mais serviços do que exporta. Para se ter ideia, o déficit passou de US$ 16,6 bilhões em 2008 para US$ 41,0 bilhões no ano passado. Em janeiro deste ano, não houve melhora. O saldo ficou negativo em US$ 3,6 bilhões, recorde para o mês.
Na mira do governo estão setores com potencial de crescimento como serviços empresariais, profissionais e técnicos. Em meio a dados tão negativos, eles conseguiram registrar uma receita de US$ 20 bilhões e um superávit de US$ 11,5 bilhões no ano passado. Eles incluem atividades como honorários de profissionais liberais, instalação e manutenção de escritórios e aluguel de imóveis, e serviços de implantação de projeto técnico-econômico, além de projetos de arquitetura e participação em feiras.
O governo avalia que, hoje, esses empresários não tiram proveito das ferramentas de apoio ao comércio exterior já existentes. Entre elas o próprio Programa de Financiamento às Exportações (Proex) e a redução de alíquotas de Imposto de Renda para pagamento de despesas de promoção comercial no exterior.
- Se essas empresas (que oferecem serviços empresariais, profissionais e técnicos) são capazes de gerar superávit de US$ 11,5 bilhões sem, na prática, utilizar as ferramentas disponíveis para exportação de serviços, quando passarem a utilizar, a alavancagem será muito grande - considerou Maurício do Val.
Também serão incentivadas as micro e pequenas empresas, que respondem por 11% das exportações de serviços, segundo o MDIC. Hoje, o déficit dessa balança é puxado pela conta de aluguel de equipamentos, relacionada a investimentos, como os do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do setor de petróleo e gás. O déficit nesse segmento foi de US$ 18,7 bilhões no ano passado. Em seguida, estão as viagens ao exterior, com um déficit de US$ 15,6 bilhões em 2012, que também entram nessa conta. Em janeiro deste ano, os brasileiros gastaram nada menos que US$ 2,3 bilhões no exterior, ante um volume de US$ 695 milhões deixado pelos turistas no Brasil no mesmo mês, o que levou a um saldo negativo de US$ 1,6 bilhão.
Na avaliação de especialistas, o déficit na conta de viagens está ligado à nova realidade da economia brasileira, que viu nada menos que 30 milhões de pessoas ascenderem à nova classe média na última década, ávidas por bens e serviços antes inacessíveis. Em terceiro lugar, estão os custos com transportes, com déficit de US$ 8,7 bilhões em 2012.
Por outro lado, os ganhos vêm de áreas como serviços financeiros, de comunicação, de construção e relativos ao comércio; além dos empresariais, profissionais e técnicos. Como toda essa contabilidade reflete a própria atividade econômica do país, a estratégia da equipe econômica é, então, aumentar as exportações, sem reduzir as importações.
- O Brasil apresenta crescimento acelerado dos negócios e boa parte deles acaba se traduzindo em demandas por novos serviços, mais sofisticados, que não são prestados localmente - disse Fábio Silveira, da RC Consultores.