Título: Indústria é vítima do baixo investimento
Autor: Rodrigues, Lino; Scrivano, Roberta; Spitz, Clarice
Fonte: O Globo, 02/03/2013, Economia, p. 28

A taxa de investimento no Brasil no ano passado foi a mais baixa entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Enquanto a Formação Bruta de Capital Fixo do país cravou uma variação de 18,1% do PIB em 2012, na China o mesmo indicador bateu em 47,8% do PIB, contra 36% na Índia, 23,5% na Rússia e 21% na África do Sul.

Tanto a Confederação Nacional da Indústria (CNI) como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) reclamam que a indústria local perdeu competitividade em relação aos produtos importados e sugerem novas desonerações e redução de custos. O setor industrial apresentou retração de 0,8% no PIB de 2012, sendo que na indústria da transformação a queda foi ainda maior, de 2,5%.

- Não é porque os juros começaram a baixar que tudo estará resolvido. Houve uma melhora (nos juros), mas ainda são as taxas mais altas do mundo - disse Paulo Skaf, presidente da Fiesp.

O economista Rogério César de Souza, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), diz que o baixo investimento em 2012 está muito ligado às expectativas do empresariado brasileiro que ainda "não sentiram firmeza" no comportamento da economia no médio e longo prazos.

O setor de máquinas e equipamentos - que responde por cerca de 50% dos investimentos no país, mas amargou queda de 9,1% na sua atividade em 2012 - também espera uma melhora no PIB em 2013, mas não acredita que a formação bruta de capital atinja os 25% do PIB, como deseja o governo, por causa de câmbio, juros e tributos.

Para a CNI, o fraco desempenho da economia no ano passado se deveu, especialmente, ao descompasso entre a expansão do consumo interno e o pífio investimento.

- A agenda do investimento é extensa e deve incluir incentivos à poupança interna e a conciliação dos instrumentos de política cambial, monetária e fiscal - sugeriu Robson Braga, presidente da CNI.

queda na taxa de poupança

Em 2012, pela primeira vez em seus 11 anos de atividade, a fábrica de componentes eletrônicos e autopeças Poli Trafos não registrou alta no faturamento. Com os pedidos mais fracos do que o normal, além da concorrência forte dos asiáticos, os empresários Ricardo Mansonetto e Paulo Corrêa dizem que o ano passado "foi de completa estagnação".

- Em maio, junho e julho recebemos metade das encomendas que tradicionalmente temos. Foi muito difícil passar por 2012 sem fechar as portas - disse Mansonetto, que agora já vê uma retomada nas vendas, mas enfrenta a dificuldade de repor os funcionários que teve de dispensar nos piores momentos.

Um dos problemas ligados ao investimento, lembra Rebeca de Palis, economista do IBGE, é que a taxa de poupança vem caindo desde que o consumo passou a crescer em ritmo maior que o PIB, em 2011. Em 2010, ano do Pibão, a economia cresceu 7,5% e o consumo das famílias, 6,9%. Naquele ano, a taxa de poupança foi de 17,5%. Em 2011, o consumo das famílias avançou 4,1%, acima dos 2,7% do PIB. A taxa de poupança ficou em 17,2%. Este ano, registrou a pior marca em 10 anos: 14,8%.

Mas a previsão inicial para 2013 é melhor. Os empresários esperam que a taxa de investimento volte ao patamar de 19,1% de 2011 e que a indústria como um todo cresça entre 2,5% e 3%.