Título: Venezuela nega crescentes rumores sobre Chávez
Autor:
Fonte: O Globo, 02/03/2013, Mundo, p. 38
Desde que Hugo Chávez foi internado, em dezembro do ano passado, para a quarta cirurgia após o diagnóstico de câncer, os venezuelanos têm acompanhado um roteiro que se repete: surgem notícias sobre uma piora no estado de saúde do presidente, a oposição exige "a verdade" e o governo reage desmentindo as informações, garantindo que Chávez está no exercício de suas funções. A diferença, agora, é que os dois lados da política da Venezuela - de forma explícita ou não - dão cada vez mais demonstrações de que estão em clima de campanha eleitoral.
Ontem, o vice-presidente Nicolás Maduro chamou de "fascista" o jornal espanhol "ABC", segundo o qual Chávez foi levado para a ilha de La Orchila, a 160 quilômetros de Caracas, onde há uma base militar, para passar os últimos momentos de sua doença. O "ABC" também afirma que o presidente sofre com o desenvolvimento de um tumor que já teria tomado 35% do pulmão esquerdo.
- Nosso presidente se encontra submetido a tratamentos complexos e duros. (...) Em nome dos venezuelanos, dizemos ao comandante Chávez: continue concentrado em sua saúde, fique tranquilo que aqui há um povo para defendê-lo - disse Maduro, durante o lançamento de um sistema de transporte estudantil, cuja cerimônia foi transmitida em rede nacional de rádio e TV.
O ministro para a Comunicação e Informação, Ernesto Villegas - quase sempre o responsável por divulgar os cada vez mais escassos boletins sobre a saúde de Chávez - disse ontem, também em cadeia nacional, numa transmissão sobre o novo sistema de TV digital venezuelano, que o presidente "está em processo de recuperação". Segundo Villegas, há uma "operação psicológica" para deixar a população nervosa.
- O povo está de pé com seu presidente. Deixem o povo venezuelano quieto - pediu o ministro.
clima eleitoral MITIFICA CHÁVEZ
Ao mesmo tempo em que asseguram que Chávez está mandando no país, seus partidários, com Maduro à frente, cada vez mais se preocupam em mitificar o presidente ainda em vida, reforçando o tom de campanha permanente característico da retórica chavista. Anteontem - um dia depois de o ex-embaixador do Panamá na OEA Guillermo Cochez afirmar que Chávez teve morte cerebral no fim de dezembro - Maduro declarou que o presidente "se descuidou" em relação à saúde por ter "se entregado de corpo e alma" ao trabalho pelo povo.
- (Chávez) Está doente porque entregou toda a sua vida por aqueles que não têm nada - disse o vice a beneficiados pelo projeto de habitação do governo, o Gran Misión Vivienda, um dos três atos políticos aos quais, ao estilo do chefe, compareceu na quinta-feira.
A oposição, depois de revelar na semana passada que já está à procura de um candidato à Presidência no caso de eventuais eleições antecipadas, também não economiza no discurso. Um dos principais opositores, Henrique Capriles (derrotado por Chávez no pleito do ano passado), abriu fogo via Twitter, dando como certa a possibilidade de que os venezuelanos voltem às urnas em 2013. Na quinta-feira, Capriles escreveu que a Venezuela ganharia "um governo que governe para todos" ainda este ano. Ontem, desafiou o governo e atacou Maduro, dizendo que o vice, um ex-motorista de ônibus e líder sindical, "nunca foi trabalhador".
"Maduro mentiu sobre a saúde do presidente, é mentira que esteve reunido com ele por cinco horas, nos próximos dias o país conhecerá a verdade", postou Capriles, governador do estado de Miranda, no microblog. "Vamos ver como explicam ao país nos próximos dias todas as mentiras que disseram sobre a situação do presidente".
A cirurgia de Chávez, de 58 anos, ocorreu em 11 de dezembro, em Havana. No último dia 18, segundo o governo da Venezuela, o presidente voltou ao país, sendo levado para um hospital militar de Caracas. Além da divulgação de quatro fotos tiradas em Havana, o governante não foi visto ou ouvido em público desde a véspera da operação.