Título: Vaiado por petistas, Cid Gomes defende PSB na vice de Dilma
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 01/03/2013, País, p. 7

Ao mesmo tempo em que se coloca integralmente a favor do apoio do PSB à eventual candidatura da presidente Dilma Rousseff, em 2014, o governador do Ceará, Cid Gomes, apresentou antecipadamente a fatura política para o PT. Em seminário promovido pelos petistas para comemorar os dez anos à frente no poder, em Fortaleza, ontem, Cid disse que o PSB tem e cacife para substituir o espaço ocupado no cenário nacional pelo PMDB, com Michel Temer na vice-presidência.

Cid lembrou que seu partido foi o que mais conquistou prefeituras de capitais (seis) em 2012 e administra o mesmo número de estados.

-Diante de um quadro em que o PMDB já ocupa a presidência do Senado e a presidência da Câmara, o PSB pode ampliar seu espaço no cenário nacional - declarou Cid, que, nas entrelinhas, deu a entender que o presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pode ser o candidato à vice na chapa de Dilma.

Campos, porém, vem trabalhando para ser candidato à Presidência.

Cortejado pela cúpula nacional do PT, Cid não encontrou a mesma receptividade junto aos petistas do seu estado. Convidado de honra para o seminário do PT, Cid foi criticado ontem por dirigentes do partido e vaiado, ao ser convidado para falar para o público, majoritariamente de petistas cearenses. Uma faixa foi levantada na plateia, com críticas a Cid: "Nem no luxo do hotel, o PT aceita coronel".

A presidente do PT cearense e ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, foi dura nas críticas a Cid. Pouco antes do início do seminário, ela deixou claro a sua diferença política com ele.

- O maior erro que eu cometi na política, até hoje, foi ter acreditado nele (Cid Gomes). Fiquei muito chocada com o que aconteceu aqui em 2012. Houve um processo muito duro e muito desonesto -disse, referindo-se à iniciativa de Cid, que lançou candidato contra o nome apoiado pela ex-prefeita.

Cid, por sua vez, tentou evitar a polêmica. Antes do seminário, disse que não comentaria a declaração de Luizianne e voltou a adotar o discurso que mais ecoa positivamente dentro do PT, favorável à manutenção do PSB na base aliada do governo. Já na mesa formada por autoridades, o governador manteve a cabeça erguida e bateu com o punho fechado no peito enquanto era vaiado pelos petistas. Também chamado ao palco, o prefeito de Fortaleza, Roberto Claudio (PSB), também foi vaiado.

Para tentar reverter a situação, Cid adotou, já compondo a mesa, um discurso a favor da coalizão partidária a favor do governo federal. E fez questão de mostrar que esteve ao lado do PT até em momentos polêmicos, principalmente quando o partido enfrentou as denúncias do mensalão.

- Em 2005, num momento difícil, estivemos juntos do PT. Em 2006, estive junto na reeleição do presidente Lula.

Os discursos de abertura do seminário giraram, em sua maioria, em torno da necessidade de manter a base aliada do governo Dilma. O ex-presidente Lula voltou a lançar a candidatura de Dilma à reeleição.