Título: Incra assentou suspeito de mandar matar extrativistas
Autor: Corrêa, Evandro
Fonte: O Globo, 05/03/2013, País, p. 5

Fazendeiro está preso por assassinato de casal em Nova Ipixuna (PA); CPT protesta contra "prêmio" para autor de crime

Belém O fazendeiro José Rodrigues Moreira, detido em Belém sob a acusação de ser um dos mandantes da execução do casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo Silva, na zona rural do município de Nova Ipixuna (PA), foi assentado pela Superintendência do Incra de Marabá. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o fazendeiro foi assentado no mesmo lote que deu origem à disputa, cujo resultado foi o assassinato do casal, em maio de 2011.

Segundo a CPT de Marabá, a decisão do Incra beneficiando o mandante do crime ocorreu no dia 14 de dezembro de 2012, sendo que somente ontem a Comissão Pastoral da Terra teve acesso à informação. Segundo o inquérito policial que apura a morte do casal de ambientalistas, José Rodrigues comprou ilegalmente 144 hectares de terra, pelo valor de R$ 100 mil, no interior do Assentamento Agroextrativista Praia Alta Piranheira em 2010. Trata-se de uma área de floresta primária usada para atividade extrativista, com grande incidência de castanheiras, cupuaçus e açaís.

Metade da área que o fazendeiro comprou era ocupada por três famílias que passaram a ser ameaçadas de expulsão por José Rodrigues. Frente à ameaça, o casal de extrativistas executado deu apoiou às famílias e impediu que José Rodrigues as expulsasse e se apropriasse da área. Por essa razão, conforme a denúncia do Ministério Público, José Rodrigues decidiu mandar matar o casal. O crime ocorreu no interior do Projeto de Assentamento no dia 24 de maio de 2011.

Logo após comprar ilegalmente os lotes, José Rodrigues levou 130 cabeças de gado para o local, que seria transformado em pastagem. Sua pretensão contava com a oposição do casal que fazia a defesa da floresta. A CPT e outras entidades rurais de Nova Ipixuna, além da Associação do Assentamento, entregaram farta documentação ao superintendente do Incra de Marabá, Edson Bonetti, com pedido de retomada dos lotes.

- Em vez de promover a retomada, o superintendente autorizou o assentamento do criminoso nos lotes. Um prêmio para o mandante das mortes que se encontra preso e que irá a júri no próximo dia 3 de abril em Marabá - afirmou o advogado José Batista Afonso, coordenador da CPT em Marabá, que classificou a decisão do Incra como uma afronta ao histórico de luta do casal de extrativistas mortos em Nova Ipixuna.

O advogado disse ainda que os movimentos sociais vão requerer ao Ministério Público Federal a apuração do caso para eventual instauração de inquérito contra o Superintendente do Incra. Procurado pela reportagem, Bonetti não foi encontrado para comentar a decisão do Incra.