Título: Dilma: podemos fazer o diabo em eleição, mas no mandato, não
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 05/03/2013, País, p. 6

Presidente prega respeito entre governantes eleitos pelo povo

Enviada especial

Convivência. Dilma caminha entre o ministro Fernando Bezerra (à esquerda), o governador Ricardo Coutinho (PSB) e o prefeito Luciano Cartaxo (PT)

campanha antecipada

JOÃO PESSOA Entre representantes de duas legendas - PSB e PT - que ameaçam colocar em risco uma aliança histórica na próxima sucessão presidencial, a presidente Dilma Rousseff afirmou que o governo "não pode nem tem justificativa para perseguir quem não é do mesmo partido dele" e fez um apelo aos políticos presentes à cerimônia de que participou ontem, em João Pessoa, para que deixassem discussões para a época das eleições.

- Desde o início do governo Lula, nós mudamos a forma de se relacionar (com os partidos). Os recursos são dados para as pessoas, municípios que precisam ou quem quer que seja. Nós podemos disputar a eleição, brigar na eleição, podemos fazer o diabo quando é hora de eleição. Mas, se a gente está no exercício do mandato, temos que nos respeitar, porque fomos eleitos pelo voto direto do povo brasileiro - disse Dilma.

A presidente pediu aos prefeitos presentes ao encontro - com os quais distribuiu chaves de retroescavadeiras - que a ajudassem a localizar famílias miseráveis que "ainda estão invisíveis" para cadastrá-las no Bolsa Família, programa que, segundo ela, divide com o Minha Casa Minha Vida o lado "generoso" do governo e que vem mudando a cara do país.

Dilma esteve ontem na capital paraibana para entregar 576 unidades habitacionais, nas quais foram investidos R$ 23,9 milhões. Na visita, esteve sempre ao lado do governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), e do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PT), em um momento delicado da relação entre os dois partidos, que vêm se estranhando desde que o presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, surgiu como possível adversário de Dilma para disputar a Presidência em 2014. Na semana passada, o pernambucano chegou a dar entrevista tecendo críticas às políticas do governo federal e, principalmente, ao fraco desempenho do PIB em 2012.

Durante a solenidade, Dilma fez elogios ao petista e ao socialista da Paraíba. Afirmou que os pleitos que os dois lhe encaminharam são muito justos e coincidentes. Ambos defendem a ampliação do aeroporto de João Pessoa e mais recursos para a conclusão do Centro de Convenções que vem sendo erguido na capital. Ela prometeu estudar os desejos dos dois com cuidado, lembrando que, quando visita municípios e estados, todos os prefeitos e governadores apresentam seus pedidos.

- Todos têm listinha - afirmou.

Ontem, Dilma entregou as chaves de 22 retroescavadeiras oferecidas a prefeitos de várias regiões da Paraíba. Eles foram chamados, um a um, ao palco armado para a cerimônia da entrega das casas. Dilma prometeu que, além das retroescavadeiras, os prefeitos receberão, ainda, caminhões caçambas e motoniveladoras. As máquinas, no entanto, não contemplam o prefeito petista. Ela teve o cuidado de explicar que não se trata de omissão nem discriminação política.

- As máquinas são para que prefeitos possam construir estradas, por onde passa a produção. Esses municípios têm até 50 mil habitantes. É para eles que estamos olhando, e não para o seu partido ou time de futebol. Por isso Cartaxo não recebeu (as máquinas) - justificou.

O Ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, lembrou que durante longos anos a Paraíba foi prejudicada, viveu uma situação "absurda" por conta de suas "divisões políticas". A presidente lembrou que o estado está recebendo R$ 6,2 bilhões para intervenções diversas, inclusive no semiárido.

Logo ao chegar, Dilma visitou parte dos 36 blocos entregues, conversou com os futuros moradores e distribuiu abraços como o que deu em Gilene Monteiro Coelho. Posteriormente ela seria chamada ao palco, usando uma blusa vermelha com uma estrela bordada de lantejoulas. Ela era a mais efusiva das beneficiárias do Minha Casa Minha Vida. Mas a primeira pessoa convocada para receber as chaves foi a cadeirante Maria Elinete dos Santos.

Dilma tentou evitar politizar a distribuição de casas, cuja menor parcela não ultrapassa R$ 30:

- Os que recebem as casas não devem nada a ninguém. Nem à presidente da República, nem ao governador, nem ao prefeito, nem ao empresário que fez. Isso é aquilo que se chama obrigação e dever do Estado, o exercício da cidadania.