Título: Serviço ainda se mantém como vilão da inflação
Autor: Paula, Nice de
Fonte: O Globo, 05/03/2013, Economia, p. 24

Perspectiva para IPCA maior faz analistas projetarem elevação da Selic já em abril

Rio e São Paulo Apesar de garantir a criação de empregos e puxar a economia, os serviços devem se manter em 2013 como vilões da inflação. Pelo terceiro ano consecutivo, os preços do setor deverão subir acima de 8%, quase o dobro do centro da meta do governo para o IPCA (4,5%). E justo em um ano, segundo economistas, em que qualquer choque externo pode fazer o índice superar o teto da meta do governo (6,5%). Nem mesmo a redução na conta de luz vai conseguir deixar a inflação tão mais baixa, que, segundo especialistas, deve fechar o ano entre 5,6% e 6%.

- O que está pressionando a inflação é justamente o setor de serviços, que garante um menor desemprego e uma economia um pouco mais ativa. A curto prazo, os alimentos também pressionam - afirmou Paulo Picchetti, professor da FGV-SP.

Para Fernando Fix, economista-chefe do Votorantim Wealth Management & Services, o setor de serviços terá inflação de 8,37% neste ano, e o IPCA ficará em 5,6%. Ele ainda ressalta que a inflação deste ano será artificialmente menor, com as ações do governo que provocaram o adiamento de reajustes nos transportes e desonerações:

- Só o pacote de redução do custo de energia da presidente reduzirá o IPCA este ano em 0,80 ponto percentual, sem contar o adiamento do aumento dos ônibus em capitais e a eventual redução da cesta básica. Sem isso, a inflação superaria o teto da meta ainda este ano.

Gilberto Braga, do Ibmec, critica a antecipação do calendário eleitoral, "um péssimo sinal para a inflação".

E essas perspectivas para a alta do IPCA, a despeito do "Pibinho" de 2012, estão levando analistas a reverem suas projeções para a taxa básica de juros (Selic). Da reunião que começa hoje, a expectativa é que o Comitê de Política Monetária (Copom) indique a retomada das altas, com a supressão da expressão "suficientemente prolongado" sobre o período de manutenção da Selic nos atuais 7,25%. A taxa, porém, só subiria em abril.

- O PIB mostra certa recuperação, já a inflação, mesmo com a redução das tarifas de energia, não cede e continua acelerando - diz Thais Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados, que trocou o cenário de estabilidade da Selic por alta de 0,25 ponto percentual em abril.

Já Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco WestLb, espera quatro altas, de 0,25 ponto, este ano, também por causa da inflação.

Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) , a perspectiva de alta da Selic acabou puxando os contratos de juros futuros. Ontem, as taxas dos contratos DI para janeiro de 2014 ficaram em 7,64%, frente a 7,62% de sexta-feira.